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Merkel, a eterna pragmática

Ines Pohl
Ines Pohl
29 de outubro de 2018

Mesmo em declínio, Merkel não perde o instinto de sobrevivência: em vez de ser posta para fora, ela mesma renuncia. E assim ganha tempo para trabalhar na construção da sua sucessora, opina a editora-chefe Ines Pohl.

Em vez de ser posta para fora, Merkel mesmo renuncia, diz editora-chefe da DW, Ines PohlFoto: picture-alliance/dpa/F. von Erichsen

Há seis meses que a coalizão entre o Partido Social-Democrata (SPD) e a aliança conservadora União Democrática Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) está no poder na Alemanha. E, no último meio ano, a Alemanha não tem sido liderada, mas paralisada por um governo que se ocupa sobretudo consigo mesmo.

A agenda política tem sido determinada por disputas internas e não por questões urgentes, como o fortalecimento do nacionalismo de direita, não apenas na Alemanha e nos países vizinhos, mas em todo o mundo.

Não se oferece nenhuma resposta para o desafio da migração, como também não se oferece nenhuma abordagem para lidar ponderadamente com os perigos e oportunidades da inteligência artificial. Sem falar das mudanças climáticas.

A população alemã está farta desse egocentrismo e autodestruição. As eleições em Hessen, um estado economicamente forte, neste domingo (28/12), mostraram exatamente isso: o país quer uma mudança. Após 13 anos de Angela Merkel no poder, a maioria já não confia mais na chanceler federal como condutora de um processo de renovação.

Merkel sabe disso. Ela falou de forma surpreendentemente franca, nos últimos dias, sobre como é difícil gerir a própria sucessão depois de tantos anos no cargo. E, hoje, não deixou escapar a sua última chance de desempenhar um papel ativo nesse processo.

Tradicionalmente, um chanceler federal da CDU também ocupa a presidência do partido. Isso não é determinado pelo estatuto partidário, mas pela aritmética do poder, pois assim fica muito mais fácil governar.

Merkel sempre deixou claro não querer abdicar desse instrumento. O fato de ela anunciar agora que não vai concorrer à reeleição à presidência partidária em dezembro mostra a gravidade da atual situação. Prova que Merkel está perdendo apoio em suas próprias fileiras. E comprova que, mesmo em declínio, Merkel não perde o instinto de sobrevivência.

Em vez de ser posta para fora, ela mesma renuncia. Mais uma vez, o que se vê é a política pragmática, que atinge seu melhor desempenho justamente quando a urgência é maior.

Isso lhe garante um certo tempo para respirar. Ela pode continuar trabalhando na construção de sua sucessora ideal, Annegret Kramp-Karrenbauer. E, acima de tudo, pode permanecer no poder por mais algum tempo.

No final, ela não terá ajudado apenas a si mesma, mas também ao seu partido. Agora a bola está de volta ao campo do SPD, o parceiro na coalizão de governo.

Com a decisão de Merkel ficou ainda mais provável que o SPD vá abandonar a aliança governamental – e fazer com que a responsabilidade por esse fracasso recaia, portanto, sobre os seus ombros.

Merkel continua fiel a si. E será assim até o final de seu mandato – que agora ficou bem mais próximo.

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