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Opinião: Merkel e a arte do equilíbrio

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Volker Wagener
1 de fevereiro de 2016

Chanceler não quer abrir mão da sua política de portas abertas aos refugiados, só que precisa de aliados que exigem justamente isso. Em jogo está a paz social na Alemanha e a coesão da UE, analisa Volker Wagener.

Volker Wagener é jornalista da redação alemã da DW

Angela Merkel optou pelo caminho lento e penoso. De passinho em passinho, ela tenta defender seu dogma das fronteiras abertas. A reivindicação de um limite máximo para o ingresso de refugiados também permanece tabu para ela. Esses dois pontos são inegociáveis.

Só que, por debaixo dessa "doutrina pura", a chanceler federal alemã toca o teclado da política de correção de curso – e com todos os dez dedos. O que se ouve é a melodia do "tanto um quanto o outro": insistir numa coisa sem abrir mão da outra.

Se a questão não fosse tão séria, poderia-se falar de um grande espetáculo. A incondicionalidade protestante de Merkel, seu inabalável apego ao princípio das livres fronteiras, em si, já a transformam numa solitária política na Europa. Ninguém mais na União Europeia (UE) age assim, ninguém a ajuda. E agora até mesmo a antes leal família dos partidos conservadores cristãos, a CDU/CSU, ameaça querer derrubá-la.

Ainda assim, o fato de Merkel estar lembrando aos recém-chegados refugiados de guerra sírios, desde já, que eles em breve terão que voltar para casa nada tem a ver com a correção de curso. Pelo contrário: ela se empenha muito para estancar o afluxo migratório, organizar uma distribuição mais justa dos refugiados na UE e para deportar tanto os refugiados por motivos econômicos quanto os culpados de atos criminosos. Só com tais medidas ela pode defender, diante dos cidadãos, a política de fronteiras abertas.

Sua alusão ao fato de que, nos anos 1990, cerca de 70% dos refugiados da ex-Iugoslávia terem deixado a Alemanha para voltarem à terra natal é uma inconfundível mensagem aos apreensivos – em geral, mas em especial aos do seu partido, a União Democrata Cristã (CDU). Merkel precisa de tempo, e só o obterá se apresentar uma perspectiva a seus críticos.

Ela trabalha para que haja menos refugiados. É coisa decidida que os que não estão cobertos nem pela Convenção de Genebra nem pela legislação alemã de asilo devem deixar novamente o país. A decisão só precisa ser posta em prática de forma efetiva.

E agora os que tiverem permissão para ficar não deverão ser saudados como novos cidadãos, mas como hóspedes por tempo limitado. O curso é claro: Merkel precisa apertar seu grande coração. Senão há perigo de infarto político-social.

Muito está em jogo nas próximas semanas. Diante desse grande tema, os três pleitos legislativos estaduais programados ganham peso, como se já fossem eleições para o Parlamento federal. A CDU sofre erosão, o partido-irmão CSU se metamorfoseou no pior inimigo da chefe de governo, e o parceiro de coalizão Partido Social-Democrata (SPD) se torna cada vez mais agressivo verbalmente.

Enquanto isso, a UE se atomiza. E tudo tem a mesma causa: a política de Merkel para os refugiados. Sem aliados, a chanceler não tem como enfrentar de forma bem sucedida o desafio histórico da migração dos povos. As duas cúpulas da UE, em 18-19 de fevereiro e em 17 de março, são presumivelmente as últimas oportunidades para se manterem abertas as fronteiras dentro da Europa. Senão, o Espaço de Schengen vira história.

Para salvar tanto sua própria grande linha política quanto uma Europa das livres fronteiras, justamente num período de dificuldade, e um direito de asilo sem teto máximo, Merkel precisa desacelerar a grande onda de refugiados, no dia a dia da diplomacia, do direito – e também com dinheiro. Só assim a carga sobre ela será aliviada, dentro de seu partido, na coalizão governamental e, acima de tudo, junto aos cidadãos apreensivos.

São deslocadas as duras críticas de políticos do Partido Verde contra a observação da chanceler federal de que o asilo na Alemanha também acaba um dia. A questão não é sepultar a cultura das boas-vindas: trata-se de uma reação necessária a realidades que se tornaram amedrontadoras.

É isso mesmo: se no início tratava-se exclusivamente de salvar os refugiados da guerra, agora o que está em jogo é a paz social na Alemanha – e a coesão da União Europeia, claro. A política de Merkel para refugiados implica incômodos. Aceitá-los sem, ao mesmo tempo, pôr em jogo a estabilidade do país e da UE é a grande arte política. E esta Merkel não conseguirá mais dominar por muito tempo. Possível, porém, ela ainda é.

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