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Opinião: Merkel ficou aquém

6 de dezembro de 2016

Chanceler federal, que é candidata à reeleição, não conseguiu realmente empolgar a CDU com seu discurso no congresso de Essen, constata o jornalista Christoph Strack, que lembra: com Helmut Kohl também começou assim.

Christoph Strack é jornalista da DWFoto: DW

A campanha eleitoral alemã de 2017 está nos seus primeiros momentos, e a chanceler federal Angela Merkel quer motivar, quer arrebatar a sua legenda, a União Democrata Cristã (CDU). Mas o brilho empalidece. Muito fragmentado, o discurso se arrasta monótono. E a base dá o troco.

O resultado da reeleição dela como presidente do partido expressa isso de forma drástica: Merkel recebe 89,5% dos votos, mais de 7 pontos percentuais abaixo do obtido em 2014. Um entre cada dez dos presentes à arena Grugahalle, em Essen, votou "não". E isso a menos de dez meses das eleições parlamentares. (Aliás, 52 deputados sequer votaram, na consulta mais importante do congresso democrata-cristão.)

Merkel parece abatida já bem antes da votação, ao começar seu discurso de 80 minutos nesta terça-feira (06/12). Talvez seja um pouquinho de resfriado, mas combina com o clima de murmurinho das horas que antecedem o congresso partidário. A base anda resmungando, é o que se diz. E, no entanto, todos aqui têm grande respeito pela atuação dela como chefe de governo, sobretudo sobre sua decisão relativa aos refugiados, em meados de 2015.

As maiores demonstrações de apoio, os aplausos entusiásticos, vêm quando Merkel diz "sim" à proibição da burca, quando ela rechaça o ódio populista, o radicalismo islâmico e as sociedades paralelas. Isso encontra ressonância junto à base, que agora não é mais totalmente a base dela. Com o ex-chanceler federal Helmut Kohl – que ela derrubou no passado e cujo nome, mesmo assim, menciona duas vezes – a coisa também começou desse jeito.

Entre os trechos mais fortes do discurso contam as lembranças do fim do regime comunista na Alemanha Oriental e da reunificação da Alemanha. A diplomada em física conta como passou da ciência à política, ficou durante um breve tempo no Partido Social-Democrata (SPD) e se foi, filiou-se ao Despertar Democrático (DA) e, na fusão deste com os democratas-cristãos do leste, foi parar na CDU.

Aí a voz de Merkel muda. A narrativa dessa lembrança ainda não está esgotada. "Vá para fora, ao ar livre", recorda, "é lá que está a liberdade", diz. Política contra a liberdade é heresia, acrescenta. O auditório a escuta e – algo pouco usual para essa chanceler que tantas vezes aparenta frieza – ela troca o "vós" pelo "vocês": "Vocês precisam me ajudar!" E: "Eu sei que às vezes exigi demais de vocês."

Apesar desses trechos, apesar do aplauso demonstrativamente prolongado, o discurso ficou muito aquém daquele do congresso de Karlsruhe, em 2015. Também aquém do anúncio público de que se candidataria à reeleição, duas semanas atrás, em Berlim.

Talvez os paralelos com Helmut Kohl não sejam mesmo tão poucos. Em 1994 ele também concorreu para um quarto mandato na chefia de governo e levou consigo uma CDU debilitada, cujo entusiasmo só partia da "Geração Kohl", aqueles jovens que só conheciam o partido com ele na liderança.

Desta vez, Merkel não reinventa a si e a seu partido. Talvez ela nem queira isso, talvez queira cuidar da antiga essência, que anda meio perdida. Talvez ela já tenha reinventado a CDU demasiadas vezes. Só que, assim, esse discurso se resume a um "continuemos assim". Será que isso basta? Para uma campanha eleitoral que "não será nenhum passeio", que será a mais árdua desde a Reunificação? Depois desta terça-feira em Essen, a pergunta fica em aberto. E mais premente.

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