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Merkel se vai, mas o estilo político fica

Retrato de Rosalia Romaniec, que chefia a redação de Política da DW
Rosalia Romaniec
8 de dezembro de 2021

Muitas pessoas se perguntam o que esperar da Alemanha sem Merkel. Dificilmente haverá surpresas: Scholz é um político da continuidade e estabilidade, afirma Rosalia Romaniec.

Merkel é sucedida por Scholz, que foi vice dela por quatro anosFoto: John Macdougall/AFP/ Pool/dpa/picture alliance

Aquela chanceler federal no início tão subestimada acabou por comandar quatro governos e administrar de maneira bem-sucedida uma série de crises em seus 16 anos de mandato.

Ela conviveu com quatro presidentes dos Estados Unidos, cinco premiês britânicos e quatro presidentes franceses – e nem vamos falar dos inúmeros chanceleres e premiês da Áustria e da Itália. Em muitas capitais, os governantes se sucediam – Merkel, porém, permanecia.

E assim é fácil de entender por que especialmente no exterior muitas pessoas não conseguem nem imaginar a Alemanha e a Europa sem Angela Merkel. E se perguntam se essa forte economia no coração do continente vai continuar estável e confiável.

Merkel lidou com parceiros difíceis de forma despretensiosa, pragmática e serena. Permaneceu sempre tranquila perante Donald Trump ou Vladimir Putin, apesar de todas as provocações. A sua bússola política ela apresentava, muitas vezes, nas entrelinhas, o que costumava ser muito mais bem entendido no exterior do que na Alemanha.

A chanceler federal alemã se impôs num mundo dominado por homens. Para isso ela não fez exibições de músculos, mas confiou na própria coragem. "É necessário sobretudo ser sincera com os outros e – talvez ainda mais importante – conosco", disse em 2019, no seu discurso em Harvard. Isso inclui, segundo Merkel, "não chamar as mentiras de verdades nem as verdades de mentiras".

Ela claramente prefere os gestos sutis às mensagens ruidosas. Quando, numa visita à residência de versão de Putin em Sochi, foi farejada pelo enorme labrador dele, manteve a calma, apesar de seu enorme medo de cães. Somente 14 anos depois, durante sua última visita ao Kremlin, ela deixou o celular tocar no volume máximo no meio de uma entrevista conjunta para a imprensa. Duas vezes seguidas!

Pelo seu estilo, Merkel sempre foi mais admirada e respeitada no exterior do que na Alemanha. Mesmo que, claro, ela não fosse nem seja apenas admirada no exterior. Até porque teve de tomar uma série de decisões desagradáveis.

Os gregos queixam-se até hoje da sua dureza na crise financeira; os italianos, por ela fechar os olhos para uma crise migratória já em desenvolvimento muito antes de 2015; e os poloneses, pelo aval ao gasoduto Nord Stream 2.

Mas nenhuma dessas decisões polêmicas arranhou o respeito de que Merkel usufrui no cenário internacional.

Merkel, afinal, incorpora um estilo de política que é difícil de encontrar em outros políticos: ela governou 16 anos sem qualquer escândalo. E ao determinar a própria despedida do cargo, criou um padrão de como se deixa o poder de forma voluntária com dignidade e respeito.

Diante de tudo isso não é de se admirar que no exterior as pessoas se perguntem o que esperar da Alemanha quando Merkel se for. Também muitos alemães, aliás, se perguntam isso.

No partido de Merkel, a CDU, ouviu-se por muito tempo a acusação de que ela não pensara na própria sucessão. Mas, se for deixada de lado a dimensão político-partidária, é possível questionar se isso faz sentido. Afinal, o sucessor dela, o social-democrata Olaf Scholz, foi vice-chanceler de Merkel ao longo de quatro anos. Também para ele, estabilidade e continuidade são as linhas centrais da política alemã. Por esse lado, ninguém precisa se preparar para algo diferente no exterior. O novo chanceler federal pôde aprender por muito tempo com Merkel.

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Rosalia Romaniec chefia a redação de Política da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.

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