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PolíticaGrécia

Moria, o inferno na Terra

Jannis Papadimitriou für App PROVISORISCH
Jannis Papadimitriou
10 de setembro de 2020

O devastador incêndio no maior campo de refugiados da Grécia, na ilha de Lesbos, manchou a imagem da Europa. Passou da hora de haver uma resposta europeia conjunta para o problema, opina Jannis Papadimitriou.

Lixo amontoado no campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, na GréciaFoto: Getty Images/L. Gouliamaki

Foi um incêndio criminoso, negligência ou apenas um acidente horrível? Não sabemos ainda. Mas não é preciso nenhuma perspicácia especial para identificar o óbvio: quando mais de 13 mil pessoas estão amontoadas em circunstâncias precárias em um local projetado para um máximo de 2.500, a situação pega fogo – às vezes, literalmente.

Já houve incêndios no campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, em 2016 e 2019. Mas nesta quarta-feira, a situação foi ainda pior: impulsionado por ventos de até 70 quilômetros por hora, o incêndio durou horas e destruiu grande parte do acampamento – principalmente porque o corpo de bombeiros também estava ocupado com um incêndio florestal.

Há anos, o superlotado campo de refugiados de Moria é visto como a "vergonha da Europa". Algo que também mancha a imagem da Grécia, que não está isenta do problema. Muito pelo contrário: repetidas vezes, políticos de Atenas de todas as vertentes prometeram combater tal mancha e fechar Moria. Mas então eles teriam que realocar os refugiados e migrantes para algum outro lugar no país, o que aparentemente ninguém queria.

A Grécia recebeu bilhões de euros em ajuda da União Europeia (UE) nos últimos anos para fornecer alojamento e alimentação para os recém-chegados, mas os governantes de Atenas fizeram pouco com o dinheiro. E a tantas vezes anunciada agilização do procedimento de requerimento de refúgio segue inexistente. Atualmente, um recém-chegado geralmente tem que esperar mais de um ano por sua primeira entrevista com um funcionário do órgão governamental responsável pelos pedidos.

Estas foram algumas das falhas da Grécia. Mas, infelizmente, a Europa também assistiu indiferente por muito tempo. E eis que surge a pergunta: quem é realmente a "Europa" neste caso? O sucesso sempre possui muitos genitores, mas em caso de fracasso, ninguém se manifesta. Em Bruxelas, são os soberanos Estados-membros que dão o tom, mesmo que as propostas formais sempre partam da Comissão da UE. Os mesmos Estados-membros que, no entanto, não se atêm às decisões conjuntas.

Um efeito colateral agradável dessa prática: pode-se assumir a responsabilidade pelo sucesso, mas para tudo além disso aponta-se o dedo para Bruxelas. A política de refugiados é um excelente exemplo. Todos os Estados-membros se recusam veementemente a seguir uma linha comum e ignoram não apenas as decisões de alto escalão da UE, mas também as determinações do Tribunal Europeu de Justiça. Isso prejudica gravemente a ideia europeia. Somente quando as imagens terríveis de Moria retornam ao noticiário televisivo é que ressurgem declarações de preocupação.

Quem já esteve no acampamento sabe que as imagens não são o que há de pior neste inferno na Terra. Não, o pior é o fedor: uma mistura de lixo podre, fumaça, suor e fezes humanas, que impregna e acompanha o visitante durante todo o tempo. É um fedor de morte, que milhares de pessoas no coração da Europa têm de suportar – e, por vezes, já não conseguem.

Mas talvez exatamente tudo isso seja intencional. Talvez alguns na Europa estejam aceitando o inferno de Moria – numa espécie de tática silenciosa – como um efeito dissuasor para repelir a imigração, sob o lema: "vejam o que lhes espera caso venham até nós".

Mas não é esperado que isso de fato espante futuros refugiados. Porque, devido aos conflitos em curso na Síria ou no Afeganistão, a espera interminável na ilha de Lesbos ainda é a melhor opção.

Jannis Papadimitriou é jornalista da Deutsche Welle. O texto reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.

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