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Opinião: Muhammad Ali, perfeito não mas ainda assim o melhor

Tobias Oelmaier
5 de junho de 2016

Mais do que boxeador de êxito, ele foi inspirador, revolucionário, único. Morte de Ali evidencia lacuna que suas três décadas de luta contra a moléstia já deixara no mundo do esporte, opina o jornalista Tobias Oelmaier.

Tobias Oelmaier, da redação de esporte da DW

"O rei está morto, viva o rei!", costumava-se dizer antigamente nas monarquias. Isso vale também para o esporte. Cada época gera seus próprios heróis. Mas agora Muhammad Ali está morto. Herói dos anos 60, 70 e início dos 80, o maior, o mais bonito, o mais forte. Quem vai tomar o lugar dele, agora? Quem, nas últimas três décadas, chegou sequer aos seus pés?

Essas foram décadas em que Ali sequer teria podido se defender de um soco, depois que a traiçoeira doença de Parkinson transformou precocemente o orgulhoso vencedor olímpico e campeão mundial num homem alquebrado, muitas vezes anestesiado pelos medicamentos fortes. Um homem sem controle sobre os gestos que antes impunham tanto respeito; sobre o sorriso capaz de irradiar tanto charme; sem poder sobre a própria língua, que sabia ser tão afiada e ferina.

Que ironia do destino! Pois ele foi mais do que um boxeador de êxito, mas do que um ganhador das Olimpíadas e campeão mundial. O mundo dos esportes já viu muitos desses, e outros ainda virão. Ele tampouco era perfeito: derrotas trágicas, erros táticos no ringue, casamentos fracassados, declarações sobre as quais talvez até ele mesmo tenha se irritado posteriormente – enfim, dia a dia de esportista.

Mas Muhammad Ali fazia o que ninguém podia esperar, quebrava convenções. Por duas vezes ele desmentiu a velha lei do boxe segundo a qual campeões mundiais destronados nunca retornam. Quando há muito os especialistas já o haviam condenado à aposentadoria, ele se alçou das cinzas, como a Fênix.

Ali colocou todo o esporte profissional num outro patamar, ao perceber a importância de um hábil trabalho de relações públicas. Legendárias ficaram suas provocações antes de lutas importantes, sua criatividade quando se tratava de ofender os adversários e colocar a si mesmo sob um foco ainda mais radiante.

Ele polarizava e tinha plena consciência do efeito que provocava. Insolente, prepotente e arrogante por um lado, por outro ele arriscou sua carreira ao recusar o alistamento para a guerra, só escapando da prisão sob pagamento de fiança.

Ele se engajou no movimento de emancipação dos negros nos Estados Unidos e converteu-se ao islamismo. Suas lutas de boxe eram lutas de classe, guerras por procuração: Ali contra o establishment, Ali contra os racistas. E, no entanto, não era nem negro nem branco. Ele foi o maior de seu tempo, talvez de todos os tempos, não só o maior pugilista, mas o maior entre os esportistas.

Não há dúvida: Ali merecia um fim melhor. Deveria ter encerrado a carreira antes, não só aos quase 40 anos e depois de uma derrota contra Trevor Berbick. E seu fim de vida também poderia ter sido mais clemente – mais heroico, talvez.

Contudo combina com a excentricidade de Muhammad Ali o fato que tenha sido assim. Só os filmes ruins têm final feliz, dizem. E ele definitivamente estava num bom filme: o maior, o melhor, o mais bonito. Ali era Ali era Ali!

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