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Opinião: Não é hora de difamar a segurança alemã

22 de dezembro de 2016

Erros devem ser identificados e corrigidos, mas pôr tudo em questão é irresponsável e populista, diz o jornalista Marcel Fürstenau: quem faz isso joga o jogo dos terroristas.

Foto: DW

Os fatos disponíveis sobre o suposto assassino do mercado natalino de Berlim, Anis Amri, parecem dar razão àqueles que acreditam que as autoridades alemãs de segurança são capazes de tudo, menos garantir segurança. Quem pensa assim deveria ser lembrado que a Alemanha foi, por muito tempo, poupada de um ato de terrorismo com tantos mortos.

No início deste ano, o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA) publicou uma lista com 11 ataques que foram evitados. entre eles está o chamado "Grupo de Sauerland", descoberto em 2007 e contra o qual foi provado o planejamento de ataques com explosivos devastadores. Os responsáveis foram condenados a longas penas de prisão. E, sim, às vezes a sorte também ajudou, como no caso dos homens conhecidos como os "Kölner Kofferbomber", cujo dispositivo só não explodiu por causa de um defeito na fabricação.

Apesar de todas as falhas, também deve ser considerada um sucesso a prisão do suspeito Jaber al-Bakr, que pouco tempo depois cometeu suicídio na prisão. As informações recolhidas sobre ele levaram à conclusão que Bakr, que veio ao país como um refugiado sírio, planejava um atentado.

Essa suposição também fez com que as autoridades de segurança ficassem em alerta sobre o tunisiano Anis Amri. Ele, que teve seu requerimento de refúgio recusado, esteve sob vigilância por meio ano. Mas não pôde ser detectada nenhuma "infração relevante à segurança do Estado". E, por isso, as investigações foram suspensas.

Só o fato de terem ficado por tanto tempo vigiando Amri leva a supor que as autoridades não agiram de forma imprudente ou leviana. Claro que, tendo em vista o atentado em Berlim, é incrivelmente trágico que Amri não pôde ser preso por falta de provas. Mas ninguém pode ser condenado ou simplesmente detido por suas posições.

Isso se chama Estado de Direito e precisa ser preservado a todo custo. Qualquer outra coisa seria um triunfo adicional dos terroristas contra valores como liberdade e dignidade humana. O objetivo deles de desestabilizar a sociedade livre e tolerante, esse eles já alcançaram – ao menos momentaneamente.

A Alemanha não deveria fazer a esses criminosos perversos e cheios de ódio o favor adicional de difamar as próprias autoridades de segurança, chamando-as de risco à segurança. Erros devem ser identificados e corrigidos. Mas pôr tudo em questão é irresponsável e populista.

Como teria sido possível impedir Anis Amri – se é que ele é o autor do crime – de implementar seu plano? Por meio de uma detenção por tempo indefinido e sem base jurídica? Então haveria na Alemanha um estado de emergência, assim como na França desde os ataques de Paris em novembro de 2015. E lá não ajudou muito, basta lembrar o atentado em Nice, em julho. Aliás, um assassinato em massa que, aparentemente, serviu de modelo macabro para o ataque a um mercado natalino em Berlim.

Infelizmente, é preciso contar com ataques dessa dimensão a qualquer momento. Somente o número fornecido por agências de segurança de pessoas perigosas chega à casa das centenas. Monitorar todos por 24 horas é impossível. Portanto, escolhe-se aqueles sobre os quais sabe-se mais. E, por mais paradoxal que isso possa parecer na atual atmosfera tensa, Anis Amri é até um bom exemplo de como a polícia e o serviço secreto interno podem ser eficientes.

Ele estava há muito tempo no radar das autoridades. Ele desapareceu – de acordo com aquilo que é conhecido – não por causa da incompetência delas, mas devido aos fatos. E estes provavelmente não bastavam para retirá-lo das ruas. Apenas se o curso das atuais investigações mostrar que aí se cometeu um erro, as autoridades alemãs de segurança poderão ser taxadas de incompetentes.

Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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