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Opinião: Nada justifica as bombas de Hiroshima e Nagasaki

6 de agosto de 2015

As bombas atômicas lançadas contra o Japão em agosto de 1945 foram crimes de guerra hediondos. Não há argumento que os justifique, ainda mais em tempos de rearmamento, opina Alexander Freund, da redação asiática da DW.

Alexander Freund, chefe da redação asiática da DWFoto: DW/Christel Becker-Rau

Hiroshima é uma cidade portuária de médio porte, no oeste da ilha principal do Japão, a várias centenas de quilômetros da capital, Tóquio. Também Nagasaki é uma cidade portuária média, ainda mais longe. Cidadezinhas bonitas, gente simpática, tudo perfeitamente normal, hoje como 70 anos atrás.

Por esse motivo, ambas as cidades estrategicamente insignificantes foram de início poupadas pelos aviões bombardeiros dos Estados Unidos. E exatamente por isso se tornaram alvos ideais para as novas armas sensacionais, lá empregadas há 70 anos. Desse modo, os militares e cientistas americanos teriam pela primeira vez a chance de estudar a extensão do poder destruidor da bomba atômica, constatar como localidades inteiras podiam ser varridas do mapa no clarão de uma explosão.

Mais de 200 mil pessoas morreram, 90 mil imediatamente, as demais poucos dias depois. Um pérfido experimento sob condições reais. Nagasaki, aliás, teve azar: em 9 de agosto de 1945 nuvens pesadas cobriam o alvo original, Fukuoka. Em Nagasaki, o céu estava azul.

Hoje o mundo inteiro conhece o nome dessas duas cidades japonesas, que simbolizam um grave pecado e os horrores da destruição atômica. "Meu Deus, o que nós fizemos?", escreveu o copiloto do bombardeiro em seu diário, depois de ter despejado a carga fatal sobre Hiroshima.

Ele não era o único a tomar consciência da própria culpa. A segunda bomba, sobre Nagasaki, três dias depois de Hiroshima, foi um crime de guerra imperdoável, já que, a essa altura, todo o mundo conhecia o devastador poder das bombas nucleares.

Mais tarde os americanos tentaram justificar esse crime, alegando que a guerra no Pacífico teria durado ainda mais sem o emprego das armas atômicas, e que muitos teriam morrido no caso de uma invasão. Só com o emprego das bombas o Japão se dispôs à capitulação, afirma-se.

Contudo, mesmo deixando de lado a opinião de historiadores segundo a qual o que realmente obrigou os japoneses a capitularem foi a entrada da União Soviética na guerra: não há justificativa possível para um crime contra a humanidade. Os fins jamais justificam os meios.

Os EUA queriam pura e simplesmente testar uma nova arma e demonstrar poder – também diante dos japoneses, mas acima de tudo diante de Moscou. Foi a primeira vez que a superpotência americana flexionou seus músculos nucleares, desencadeando, assim, a espiral armamentista, cujos efeitos sentimos até hoje.

Pois, depois de Hiroshima e Nagasaki, todas as superpotências – e aqueles que se consideram como tal – querem a bomba: Rússia, China, França, Reino Unido; mais tarde também Índia e Paquistão; alguns Estados que preferem não falar do assunto, e outros que, como a Coreia do Norte, tentam se manter vivos às custas do trunfo atômico. E, claro, o Irã, que quer a sua bomba, mas possivelmente ainda poderá ser impedido. Esses são os maus espíritos que foram invocados 70 anos atrás.

Com os bombardeios, contudo, o belicoso Japão também assumiu o papel de vítima. Por isso o país prefere lembrar o fim da Segunda Guerra Mundial, em vez das incontáveis atrocidades perpetradas pelas forças japonesas, sobretudo contra os vizinhos asiáticos.

Só que a vítima foi, em primeira linha, agressor. Até hoje o Japão se recusa de maneira criminosa a encarar o próprio passado e a promover a conciliação com as nações vizinhas. Hoje, um premiê japonês se inclina diante das vítimas das bombas atômicas. E embora deseje a proibição das armas nucleares, ao mesmo tempo quer reformar a Constituição nacional pacifista.

Juntamente com os os EUA, seu antigo adversário de guerra, o primeiro-ministro Shinzo Abe deseja fortalecer o Japão, para que esteja apto a fazer frente, também militarmente, ao comportamento cada vez mais agressivo da China. A medida pode ser compreensível do ponto de vista estratégico, porém Abe não conta com o apoio da maioria da população, mesmo 70 anos após o fim da guerra.

Pois o que gera paz e estabilidade não é o armamentismo e a ostentação de força, mas a conciliação e a prosperidade. Essa deveria ser a lição dos monstruosos horrores da Segunda Guerra Mundial, não só para o Japão, enquanto vítima e agressor, mas também para os demais protagonistas políticos e militares da região.

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