1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Opinião

(av)4 de abril de 2007

Embate diplomático e campanha propagandística em torno dos 15 soldados britânicos presos no Irã. E agora Ahmadinedjad ainda capitaliza sua libertação. A opinião de Peter Philipp.

Na lógica do presidente iraniano, tudo tem sua ordem. Os 15 marinheiros britânicos admitiram haver invadido território do Irã, podendo, portanto, ser levados a juízo e condenados. Liberá-los agora é um gesto de boa vontade, por ocasião da festa de Páscoa e do aniversário do profeta Maomé.

Contudo, quase nada tem a ver com lógica, neste incidente. Ele é antes a expressão da tensão que rege no Irã e seus arredores. E isso não é de ontem.

Assim, não foi, certamente, por acaso que a prisão dos 15 britânicos ocorreu quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas se propunha a endurecer as sanções contra o Irã, a fim de demover o país de sua política nuclear.

Tampouco é, em absoluto, acaso, o fato de justamente agora começar a se mover algo no caso dos iranianos detidos no Iraque. Um diplomata seqüestrado foi libertado e assessores presos pelos norte-americanos podem, pela primeira vez em semanas, receber visitas de diplomatas iranianos.

Mesmo que Teerã não haja relacionado a detenção dos 15 britânicos nem com o impasse nuclear nem com os assessores detidos, parece que se trata de um "pacote".

Mesmo assim, o incidente [no Golfo Pérsico] se caracterizaria como seqüestro e retenção de reféns, caso as circunstâncias in loco não fossem tão confusas. O traçado exato da fronteira entre o Irã e o Iraque não é, em absoluto, unívoco. A disputa a este respeito já foi razão de guerra, no passado, e de pouco adianta ostentar-se mutuamente dados de satélite, com o fim de provar o próprio direito.

Desde o início havia emoção demais em jogo, de ambos os lados, e também orgulho, para que fosse possível esclarecer a questão com toda a calma. Em vez disso, Londres congelou as relações [com o Irã], isentando-se de qualquer acusação. E Teerã ameaçou com um processo exemplar e promoveu passetas diante da embaixada britânica.

Entretanto, as imagens dos manifestantes exigindo a execução dos 15 soldados não angariaram simpatias para o Irã, mas sim confirmaram e reforçaram os preconceitos. Da mesma forma, as severas palavras iniciais de Londres lembraram a alguns iranianos os tempos da presença britânica em seu país, que também não constituem uma página célebre para o Reino Unido.

Apesar de tudo isto, desde o princípio esteve claro que ambas as partes tinham que estar interessadas numa solução do conflito, pois mais uma escalada – possivelmente até mesmo militar – não servia a ninguém.

É provável que o problema fosse resolvido mais cedo, se Londres declarasse simplesmente não ter consciência de qualquer erro. Mas que lamentava, caso houvesse, apesar de tudo, atravessado os limites territoriais.

Ou Teerã teria aceito e o caso estaria encerrado, ou senão teria se obstinado, perdendo porém, assim, as últimas simpatias no exterior. Mas, da forma como correram as coisas, houve duas semanas de embates diplomáticos e uma batalha propagandística, e no fim o presidente Ahmadinedjad consegue até ganhar pontos com a libertação dos britânicos. E nada muda isto, nem o fato de – pelo menos a mídia britânica – agora menosprezar seu comportamento como "encenação".

Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.

Pular a seção Mais sobre este assunto