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O último golpe contra a democracia

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Seda Serdar
25 de junho de 2018

Com mais uma vitória de Erdogan, quem perde é a democracia. A eleição de 24 de junho era a última chance de reverter esse curso, opina a jornalista Seda Serdar.

Recep Tayyip Erdogan vai governar com mais poderes nos próximos cinco anosFoto: picture-alliance/AA/K. Ozer

Uma nova era se iniciou na Turquia. O presidente Recep Tayyip Erdogan cimentou o seu poder, pelo menos, para os próximos cinco anos. O novo sistema político permite que o presidente nomeie diretamente ministros de gabinete, dá ao chefe de Estado a prerrogativa de emitir decretos e nomear membros do Judiciário.

Erdogan conseguiu maioria absoluta para ser eleito presidente, embora a porcentagem de votos do seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) tenha caído para 42,5% –  sete pontos percentuais a menos que os 49,5% das eleições parlamentares de 2015.

Sim, está é uma grande vitória de Erdogan. Mas é uma grande vitória num país muito polarizado. Enquanto os eleitores do AKP comemoram, a outra metade está profundamente desapontada, ciente de que este é o fim da democracia como a conhece.

A oposição conseguiu retornar com força, mas não foi o suficiente. Apesar das queixas de fraude eleitoral, o AKP foi rápido em declarar a vitória e vai ater-se a ela a todo custo. É um déjà vu que lembra o referendo em 2017, quando o voto do "sim" ganhou por uma pequena maioria, abrindo caminho para a mudança constitucional.

A eleição de 24 de junho foi a última chance de reverter essa decisão, o último golpe da Turquia contra a democracia. Os cidadãos que votaram nos partidos da oposição e no que ela representa terão que encontrar uma maneira de se adaptar ao novo sistema.

O mundo vem assistindo a isso há muito tempo. E continuará a fazê-lo, já que a Turquia não é um aliado que pode ser facilmente ignorado. Atualmente, as relações de Ancara com o Ocidente, principalmente com a Europa, enfrentarão mais desafios do que antes.

Provavelmente mais para os parceiros europeus de Erdogan do que para o próprio presidente, já que agora ele tem o argumento necessário para exercer legalmente a sua expansão de poder – algo que vem praticando durante o estado de emergência que está vigor desde o fracassado golpe de 2016.

Se a União Europeia (UE) decidir suspender formalmente o processo de adesão da Turquia, isso significa que estará ignorando a outra metade do país que vem lutando pela democracia. Se optar por não suspendê-lo, terá que encontrar uma forma de lidar com um país que está constantemente violando justamente os valores sobre os quais a UE foi concebida.

O silêncio dos líderes mundiais após os resultados das eleições preliminares indica que vão lidar cautelosamente com a Turquia. Considerando as notícias sobre fraude eleitoral durante e antes da eleição, a frustração dos eleitores é compreensível.

Enquanto a oposição se preocupa com o que dizer ao público em 25 de junho, Erdogan deve arregaçar as mangas e mergulhar no aquecimento da economia. Ganhar uma eleição é uma coisa, mas acabar com os problemas econômicos da Turquia exigirá mais esforços e será um grande desafio, apesar de todos os poderes do novo presidente.

Seda Serdar é jornalista da redação turca da Deutsche Welle. 

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