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Opinião: O abraço pragmático de Obama em Merkel

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Richard Fuchs
25 de abril de 2016

Presidente dos EUA expressou apreço genuíno pela chanceler alemã, mas com um lado calculista: ela é uma das poucas protagonistas que podem ajudar a preservar o legado político dele, opina o jornalista Richard Fuchs.

Richard Fuchs é jornalista da DW

Mesmo tendo se oferecido para ensinar golfe à chanceler federal da Alemanha, na verdade o presidente americano, Barack Obama, está torcendo para que, ainda por muitos anos, Angela Merkel não tenha tempo para aceitar o convite.

Pois, a poucos meses de entregar o cargo, o chefe de Estado democrata vê seu legado político em risco: ao fim de seus dois mandatos, mostra-se mais frágil do que nunca a ordem mundial estabelecida após o fim da Segunda Guerra Mundial com a aliança transatlântica entre os Estados Unidos e a Europa.

Uma nova guerra fria coloca em xeque a ordem de paz europeia, rebaixando a Ucrânia a zona de disputa por influência política entre a Rússia e o Ocidente. Entre milícias terroristas e déspotas, o Oriente Médio parece estar em processo de autodissolução. E no Velho Continente, em apenas alguns meses, a crise dos refugiados abalou os fundamentos de mais de seis décadas de unidade europeia.

Diante de tudo isso, o homem de Estado mais poderoso do mundo aparenta uma estranha vulnerabilidade, até mesmo impotência visível. Isso parece estar óbvio até mesmo para o 44º presidente dos EUA, ao ponto de agora, na Alemanha, ele ter começado a organizar ofensivamente o seu próprio espólio.

Em Hannover, Obama demonstrou, com palavras, imagens e gestos, que agora vê Merkel como a sua substituta no papel de advogar o livre-comércio transatlântico, a estabilidade democrática e a cooperação em vez da confrontação. Um abraço aqui, um elogio ali: ele se disse feliz por poder considerar Merkel uma amiga, cuja "mão firme", "fidelidade aos princípios" e "desejo irredutível de unidade europeia" aprecia.

A chefe de governo alemã luta por valores universais, mesmo em situações em que isso é difícil, prosseguiu o político democrata. E na crise migratória ela se colocou do lado certo da história. Os hinos de louvor de Obama pareciam não ter fim.

Por um lado, tudo isso é expressão de um apreço pessoal genuíno, numa nem sempre fácil relação pessoal com Merkel – afinal, os serviços secretos de Obama grampearam o celular da chanceler federal. Isso comprometeu a confiança e a reputação dele junto à amiga, e bem mais do que, durante um bom tempo, os americanos se deram conta.

Contudo, o pragmatismo voltou a unir os dois políticos. Também devido à constatação de que um mundo "em desordem" necessita urgentemente de figuras de liderança sóbrias e ponderadas. Desse modo, Obama e Merkel aprenderam a se apreciar e a confiar um no outro.

Mas a proximidade do presidente com a chanceler também tem um aspecto calculista: ao entregar em janeiro próximo o cargo a seu sucessor, ele precisa de gente que leve adiante sua visão de política mundial. Em seu próprio país, muitos duvidam que o possível vencedor das eleições Donald Trump venha a ser uma instância de confiabilidade.

Nesse contexto, deve ser um cenário de horror geopolítico para Obama a perspectiva de as forças centrífugas da disputa europeia sobre a crise migratória também poderem varrer do palco político o elemento de estabilidade representado por Merkel. Só assim se explica o fato de Obama estar colocando num dos lados da balança o peso político que lhe resta, mesmo arriscando a confrontação com os numerosos opositores da política de Merkel para os refugiados.

Projetos conjuntos devem ajudar a preparar o solo para o novo, para discussões além do debate sobre os refugiados e que unam mais a Europa. Para Obama, o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla em inglês) é um desses laços unificadores, com o qual ele pretende dar um novo impulso ao debate transatlântico. E ele quer colocar Merkel em cena como organizadora de uma nova ordem econômica transatlântica – também conferindo-lhe o papel de garantia à unidade da Europa.

O presidente dos EUA percebe que se criou um vácuo político na região, uma erosão da crença no projeto comum de uma Europa unificada. E no entanto, a seu ver, essa união não é apenas uma necessidade para o continente, mas também para o resto do mundo livre.

É justificada a apreensão de Obama quanto a instituições como a União Europeia, as Nações Unidas, o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional. Sem uma aliança transatlântica forte, essas instituições do pós-Guerra não subsistirão por mais muito tempo na ordem política mundial do século 21.

Por essa ordem mundial liberal ser tão importante para Merkel é que ela se tornou indispensável para Obama. Também isso está contido no cálculo do presidente ao abraçar a chanceler alemã. Desse modo, o apoio a Merkel se torna parte importante do legado político de Obama.

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