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O deprimente debate entre Trump e Biden

30 de setembro de 2020

No primeiro embate com o candidato democrata, presidente não deixou seu oponente terminar quase nenhuma frase. O duelo se assemelhou a uma briga entre dois tios velhos, opina a jornalista Carla Bleiker.

"Se um candidato não deixa o outro terminar sua fala, isso não pode ser chamado de debate"Foto: Jonathan Ernst/Reuters

Que diabo foi isso? Essa foi a pergunta que restou aos telespectadores após o primeiro debate entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu adversário, Joe Biden. O que na verdade deveria ser um intercâmbio de fatos para facilitar a escolha dos eleitores que realmente ainda estão indecisos, pareceu, já minutos após o início, uma caótica briga familiar entre dois tios velhos, dos quais um não respeitava regra alguma e o outro ria de forma cada vez mais forçada, balançando a cabeça para não gritar alto.

Os EUA estão em meio a uma de suas piores crises – a pandemia de coronavírus, desastres naturais devido às mudanças climáticas e um fosso cada vez mais fundo entre americanos negros e brancos abalam o país. Mas na primeira discussão direta entre os candidatos republicano e democrata, o que se viu foi um presidente que não deixou seu oponente terminar quase nenhuma frase e praticamente não apresentou planos próprios para melhorar a situação.

Quando o moderador Chris Wallace alertou Trump de que sua equipe havia aceitado as regras do debate, e que o presidente se comprometeu, por isso, a deixar Biden responder por dois minutos às perguntas sem ser interrompido, Biden apenas disse secamente: "Ele nunca mantém sua palavra." Mesmo assim, foi deprimente ver como Trump conseguiu lançar o debate em tamanho caos sem que o moderador tivesse sucesso em contê-lo.

Biden também teve seus momentos em que passou do ponto. Ele chamou Trump de palhaço, o que é inapropriado no palco do debate político. E a declaração de Biden sobre quem pode votar por correspondência e onde, e por quanto tempo isso pode ser feito, evoluiu para um confuso discurso de frases intercaladas típico de Biden, cujo fim nada teve a ver com o início.

Mas foi Trump quem levou o conceito do debate presidencial ao absurdo. O moderador Wallace não conseguiu controlá-lo. E Biden ofereceu pouco para combater esse comportamento. Apenas uma vez o tom de Biden se tornou tão agressivo que ele conseguiu parar por um segundo o fluxo constante de interrupções de Trump: quando falou de seu falecido filho Beau e de seu serviço militar no Iraque, Trump tentou mudar a conversa para o outro filho de Biden, Hunter, citando as denúncias de corrupção contra ele.

Se durante os 90 minutos um candidato não deixa o outro terminar sua fala, isso não pode ser chamado de debate. O próximo previsto é o embate entre o vice-presidente Mike Pence e a companheira de chapa de Biden, Kamala Harris, em 7 de outubro. Este será seguido por mais dois outros debates na TV entre Biden e Trump. Se Biden cancelasse esses eventos por frustração com o que ocorreu, não seria uma jogada politicamente sábia, já que ele poderia ser xingado de covarde por ter desistido. Mas seria algo compreensível depois desse "debate" catastrófico.

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*Carla Bleiker é jornalista da DW.  O texto acima reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.

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