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Opinião: O grande embuste de Putin

Ingo Mannteufel
18 de março de 2018

Não foi nenhuma surpresa Putin conquistar mais um mandato. O resultado dessas eleições farsescas não poderia ser diferente, opina o chefe da redação russa, Ingo Mannteufel.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, discursa após o anúncio da sua vitória. Foto: picture-alliance/AP/A. Zemlianichenko

O Kremlin controla todos os aspectos do processo político na Rússia e justamente neste espetáculo eleitoral não deu nenhuma chance ao acaso. Portanto, os mais de 70% dos votos que Vladimir Putin teria recebido são muito difíceis de serem avaliados.

Certamente muitos russos o escolheram. Ele também é, sem sombra de dúvida, popular entre os russos, mas também porque o Kremlin há anos não permite que outros políticos possam crescer e se tornar mais conhecidos na mídia controlada e concentrada.

Isso não vale apenas para a reprimida oposição real, como o conhecido Alexei Navalny, mas também para as forças da oposição que se enquadra no sistema e até mesmo para os seguidores do presidente, como o primeiro-ministro Dimitri Medvedev. Além da repressão dos aparelhos de segurança, a representação midiática de Putin como o único líder viável também é uma importante fonte para a manutenção do poder pelo presidente.

Enquanto não houver uma concorrência política real na Rússia, os resultados anunciados dessas pseudoeleições não significam nada. A concorrência política é encenada. Os outros candidatos no páreo não tinham chance alguma. Eles foram apresentados desde o início apenas para preencher vagas – e cumpriram sua tarefa.

Ingo Mannteufel é chefe da redação russa da DW

O Kremlin estava ciente dessa fraqueza, então passou a ir além da mera tarefa formal de assegurar a vitória de Putin como presidente. Era preciso apresentar uma taxa de votos a favor de Putin acima de 70% e com um comparecimento alto – se possível, também de 70% –, ou seja, um resultado impressionante para dissipar qualquer questionamento em relação à sua legitimidade.

Mas apenas contemporâneos ingênuos ficam impressionados com esse resultado. Os estrategistas políticos no Kremlin sabem disso melhor do que ninguém, pois lá foram concebidos os muitos truques, manipulações e falsificações para alcançar o resultado desejado.

Mas para onde Putin vai conduzir a Rússia nos próximos anos? No Ocidente há temores sobre a imprevisível e agressiva política externa da Rússia, como explicou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. O envenenamento do ex-espião Skripal na Inglaterra, por meio de uma neurotoxina, deixou claro que Putin está disposto a acirrar ainda mais o confronto com o Ocidente.

Com sua política externa expansionista e agressiva, o Kremlin também quer desviar a atenção da própria miséria. Os últimos seis anos foram uma era perdida para o país, sob qualquer ponto de vista: o Produto Interno Bruto cresceu apenas moderadamente. O abismo econômico e tecnológico entre o país e as locomotivas da economia mundial apenas se acentuou, especialmente em relação à China, mas também em relação a EUA, Japão e União Europeia. Os russos sentem a queda em seus bolsos. No entanto, a máquina de propaganda controlada pelo Kremlin esconde as causas domésticas da estagnação econômica e social com uma retórica antiocidental e blefes militares.

Putin não vai mudar de curso no seu próximo mandato. Reformas reais na economia e na administração levariam inevitavelmente a questionamentos dos fundamentos do seu poder. Portanto, só é possível esperar encenações de reformas, se tanto. Além disso, como mostrou seu mais recente discurso sobre o estado da união, ele vai prosseguir com sua atual política e retórica sobre gastos militares e novas armas. O tempo de ilusões e enganos sobre a Rússia de Putin já acabou há muito tempo.

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