Opinião: O lado positivo da ascensão de Trump
Donald Trump é um demagogo. Ele joga as pessoas contra as outras apelando aos seus instintos mais baixos. Sua campanha tem sido uma longa bravata alimentada por uma constante difusão de medo e da crença de que a solução para todos os erros do país está em uma figura autoritária – como ele – com a vontade de corrigi-los. Por todas essas razões, uma pessoa como Trump nunca deveria ter a permissão de disputar cargos públicos, e muito menos a presidência do país mais poderoso do mundo.
Dito tudo isso, ainda assim, é bom e importante frisar que, após sua vitória em Indiana e desistência de seus dois últimos adversários, Trump é de fato o candidato do Partido Republicano à disputa pela Casa Branca.
Primeiro, no momento em que a confiança nos partidos estabelecidos, nos políticos tradicionais, no sistema político e no processo democrático têm erodido dramaticamente – como evidenciado pela ascensão de Trump e Bernie Sanders – é crucial que as regras do jogo democrático não sejam mudadas no meio do caminho.
Ao passar o rolo compressor sobre Ted Cruz em Indiana, Trump colocou um fim a qualquer esperança de seus rivais ou da liderança do Partido Republicano de talvez retirar, de alguma maneira, a sua nomeação como candidato republicano por meio de acordos de bastidores de última hora ou a mudança de regras em uma convenção de partido contestada.
Tal cenário teria sido um desastre para o processo democrático, por mais falho que ele possa ser, e só alimentaria o ressentimento e desconfiança de muitos eleitores americanos.
Dito de outra forma: Trump ganhou 28 primárias até agora em comparação com os 14 êxitos somados peles seus concorrentes mais próximos, Ted Cruz, John Kasich e Marco Rubio. Ele também superou seus rivais recebendo mais votos e mais delegados. Tudo isso faz de Trump o vencedor decisivo das primárias republicanas.
É difícil de digerir, mas ele recebeu o direito de ser o porta-bandeira do Partido Republicano nas eleições presidenciais deste ano. Negar-lhe o direito seria apenas provar o que Trump recentemente usou de forma hábil para marcar grandes pontos políticos, quando disse que o sistema político é "manipulado".
A vitória de Trump é também importante para o Partido Republicano – ou o que restou dele. Por muito tempo, a uma vez orgulhosa legenda de Abraham Lincoln conseguiu evitar um longo e duro olhar introspectivo no que ela se tornou desde que permitiu que radicais do movimento ultraconservador Tea Party fizessem dela o que bem entendessem.
Agora, o partido tem que enfrentar as consequências de seus próprios erros. Talvez uma primária em que seus dois principais candidatos, Trump e Cruz, tiveram sucesso ao insultar de forma explícita sua própria legenda daráfinalmente uma pausa ao Partido Republicano. Já é mais do que tempo para os republicanos conduzirem uma autópsia completa de sua história recente e mudar o curso.
A terceira razão para a importância da nomeação de Trump: ela dá aos eleitores americanos a chance de mostrar que o magnata não fala pela maioria deles na eleição geral.
É essencial para a saúde do sistema político que demagogos como Trump – que têm um forte apoio do barulhento, mas comparativamente menor segmento dos eleitores que votam em primárias – sejam colocados em seu lugar em novembro. A democracia americana é forte e vibrante suficiente para fazer isso.
Michael Knigge é jornalista da redação inglesa da DW e especialista em política americana.