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Mundo espera um reinício

4 de novembro de 2008

O interesse pelas eleições norte-americanas é grande no exterior. Pois o resto do mundo sabe que dos resultados depende o futuro de vários outros países, comenta Peter Philipp, articulista da Deutsche Welle.

Peter Philipp

No momento em que os cidadãos norte-americanos escolhem um novo presidente nesta terça-feira (04/11), poucos se deixarão influenciar por qualquer tipo de pensamento referente à Europa ou à Alemanha especificamente. Se houver alguma referência ao exterior, esta será a países aos quais os EUA estão ligados por razões não muito agradáveis: em primeiro lugar o Iraque, aí talvez o Afeganistão, então o Irã e certamente também Israel e Palestina.

Em contrapartida, o mundo – e especialmente a Europa – demonstra um interesse tão grande pelas eleições presidenciais norte-americanas, que se poderia pensar que o próprio futuro dessas outras regiões depende do resultado do pleito.

Mundo interdependente

O que em parte é correto. Pois não somente a globalização e não apenas a recente crise financeira nos ensinam o quanto hoje tudo funciona de forma interdependente e quão rápido começamos a espirrar, tão logo uma gripe se alastra do outro lado do Atlântico. É do nosso mais próprio interesse que se tomem, nos EUA, as devidas medidas de segurança: tanto no setor financeiro quanto na política econômica, nas questões relativas ao meio ambiente e, obviamente, na política militar e de poder.

O atual senhor da Casa Branca deixou a desejar em todas essas questões. E o mundo não está, no fim de seu mandato, melhor do que antes dele, mas sim num estado desolado. Tudo isso arranhou a imagem dos Estados Unidos, não somente na Europa, mas em todo o mundo. Injustamente a crítica a George W. Bush vem sendo projetada com freqüência "nos americanos", ou seja, em todos aqueles dos quais gostamos e que nos serviram muitas vezes de exemplo ou foram nossos ídolos.

O mesmo vale também para muitos árabes e iranianos, que vêem no país de Bush um inimigo, enquanto seguem sonhando com o american way of life. Embora não queiram ser rejeitados ou humilhados por Washington, os europeus querem voltar a ver os EUA como um parceiro, com quem possam falar de seus problemas e resolvê-los juntos. Ou pelo menos tentar solucioná-los.

Falta de consideração

Durante o governo Bush, isso foi ficando cada vez mais difícil. Washington seguiu um caminho solitário, sem se importar com os aliados, sem levar em consideração nem as Nações Unidas nem os interesses europeus. A relação com os EUA se tornou, diante disso, cada vez mais complicada. A este fato de deve, em grande parte, o desejo de as coisas mudem nos EUA, e o interesse se esta eleição é que trará a mudança.

Diversas enquetes mostraram que o protagonista da mudança, Barack Obama, é o favorito para a maioria dos europeus, em termos de popularidade. E que o mundo islâmico, tão tiranizado sob o governo Bush, também deposita esperanças nele, por esperar que seu governo represente um recomeço.

Um reinício que possibilite uma comunicação de igual para igual, com respeito mútuo, quem sabe algum dia até amizade. Um recomeço que permita que quarteirões não tenham que ser interditados cada vez que um presidente norte-americano passa de visita, mas que este possa se misturar à massa, como foi o caso de Obama recentemente em Berlim.

Ingenuidade?

Para alguns, essas esperanças parecem um pouco ingênuas, pois Obama também não vai conseguir responder a tudo. No entanto, essas esperanças são a expressão do enfado com o atual estado das relações com os EUA. E expressão de uma profunda esperança de que, após as eleições, dias melhores virão.

É possível que no pleito seja escolhido "apenas" o presidente dos EUA, mas a Europa e outras regiões do planeta percebem, mais que claramente, que se os resultados dizem respeito também a seu próprio futuro. (sv)

Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.

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