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Opinião: O ocaso dos socialistas no comando da França

21 de abril de 2017

Durante a campanha presidencial francesa, uma coisa ficou clara: a política de Hollande foi tudo, menos de esquerda. O desastre anunciado para os socialistas no domingo dá a eles a oportunidade de renovar seu programa.

Kersten Knipp é jornalista da DW

O candidato presidencial conservador François Fillon deveria estar feliz de ter tido uma certa sorte em meio ao azar. Pois resultou numa perda de apoio relativamente branda a onda de indignação que se abateu sobre ele, ao vir à tona que propiciava à esposa e aos filhos suntuosos salários dos cofres públicos por tarefas bastante modestas.

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Com uma intenção de voto de 20%, ele atualmente se encontra apenas entre seis e sete pontos percentuais abaixo dos resultados anteriores à divulgação do escândalo. Ao que tudo indica, o eleitorado considerou seu comportamento como "apenas" uma contravenção legal, em vez de fraude ideológica – acusação perfeitamente cabível, em se tratando de um católico professado. Neste caso, doutrina cristã e prática de longos anos estiveram pelo menos em extrema tensão recíproca.

Em contrapartida, seu adversário Benoît Hamon, candidato dos socialistas, acaba de sentir na pele o que acontece quando se imputa prevaricação ideológica a alguém. A acusação pode não ter se dirigido a ele, pessoalmente, mas ao seu partido, que há cinco anos governa sob o presidente Hollande. Nas sondagens, o íntegro Hamon está reduzido a 8%.

Desse modo, ele paga a conta por uma política que, nos últimos anos, valeu uma fama fatal a seu partido: a falta de princípios políticos. Nominalmente, ela era e é considerada socialista, porém há muito deixara de ser de esquerda. O partido deixou de perseguir um programa que merecesse esse nome: pode tê-lo até anunciado oralmente, mas abriu mão de implementá-lo.

Em vez disso, entre os socialistas um outro tema ganhou vulto: a sociedade multicultural. Imigração e integração, a dedicação ao "outro" frente à sensação de não estar mais em casa no próprio país. O debate sobre o bem estar da sociedade plural agitou os franceses como nenhum outro.

Isso não fez bem ao país, pois os fronts ideológicos corriam paralelos aos sociais. Os apologistas do multiculturalismo vêm quase exclusivamente nas camadas mais bem situadas, enquanto muitos para quem essa euforia é estranha têm preocupações bem outras – sobretudo com a própria existência.

Além disso, tiveram que aceitar ser vistos como caipiras nos meios chiques da autodenominada vanguarda. Eles representam o grupo dos totalmente impermeáveis à beleza da multicolorida república. O resultado foi sua penúria econômica ser agravada pelo ostracismo cultural.

O sociogeógrafo Christophe Guilluy chamou a atenção para essa ruptura em diversas publicações de prestígio. Com veemência, ele critica o endurecimento do debate que se torna ideológico, a transformação da política em ideologia e estilo de vida.

"De um lado, os modernos, os que entenderam o sentido da história, que respeitam o outro; e do outro, as classes simples, os pouco qualificados, os espíritos tacanhos, as pessoas sem diploma."

Há anos, Guilluy adverte sobre a radicalização dos que foram deixados para trás. Afinal, segundo as pesquisas de intenção de voto atuais, um quinto dos franceses está disposto a dar seu voto à Frente Nacional (FN) e passar a limpo a França e a Europa, em todos os sentidos.

Ao que tudo indica, no fim, Marine Le Pen não vai triunfar: o liberal Emanuel Macron está logo à sua frente, o ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon, um pouco atrás.

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Independente de quem os franceses acabem elegendo, o resultado das urnas é, desde já, um alerta para os socialistas. Ele lembra que uma república pode ser "colorida", mas que sua liderança política também precisa cuidar justamente daqueles cuja existência econômica e cultural é só cinzenta.

Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.
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