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O pacto de migração da ONU e a propaganda populista

Martin Muno
Martin Muno
10 de dezembro de 2018

A comunidade internacional aprovou o pacto migratório das Nações Unidas. O processo foi marcado por mentiras e teorias de conspiração. E essas não se calarão tão cedo, opina Martin Muno.

Ativistas de extrema direita protestam contra pacto de migração em BerlimFoto: imago/C. Mang

É um ato político simbólico: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, viajou expressamente para Marrakech, apenas a fim de demonstrar, com sua presença, que a Alemanha apoia o pacto global das Nações Unidas para migração. O governo alemão também poderia tê-lo demonstrado de forma menos laboriosa, muitos países enviaram pessoal de escalões nitidamente mais baixos.

Para a premiê alemã, porém, o documento é significativo por dois motivos. Por um lado, é a primeira vez que se chega a um pacto abrangente sobre a migração, em nível global. Por outro lado, o debate a respeito foi marcado por mentiras e agitação malévola.

Uma ampla coalizão de populistas e extremistas de direita, de Steve Bannon e Marine Le Pen a Viktor Orbán e Matteo Salvini, vê no texto um "pacto do diabo". Ou, como formulou o deputado Martin Hebner, da populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), um "pacto pela abolição das fronteiras", desencadeando uma "migração de povos jamais vista".

Essa campanha de propaganda foi inflamada pelas redes sociais: mais de um quarto de todos os tuítes sobre o pacto para migração partiram de social bots, ou seja, programas que fingem ser seres humanos reais. Eles disseminaram afirmativas segundo as quais Berlim tentaria intencionalmente enganar a população sobre o acordo, a fim de possibilitar a imigração em massa. Puras teorias de conspiração, portanto.

Essa ofensiva propagandística foi acompanhada por matérias em sites direitistas, de Breitbart  até Junge Freiheit. Para os da direita tanto faz que o acordo não seja vinculativo e regulamente principalmente a migração com fins de trabalho. A meta deles era, acima de tudo, acirrar medos difusos.

Fato é que, há séculos, a migração é uma realidade indiscutível em muitas partes do mundo. Os Estados Unidos, que rejeitam o acordo, são um exemplo perfeito disso, incluindo um presidente que é neto de um imigrante alemão e casado com uma imigrante eslovena.

Sem a mão de obra estrangeira, a Alemanha nunca teria se tornado campeã de exportação. Um estudo da consultora empresarial McKinsey mostra que os mais de 250 milhões de migrantes não são os menos produtivos, pois, representando 3% da população mundial, eles geram 10% do PIB global.

O pacto migratório simplesmente reconhece essa realidade. Embora também se trate de combater as causas de êxodo e as quadrilhas de traficantes humanos, essencialmente pretende-se reduzir obstáculos burocráticos, por exemplo, no cálculo e transmissão de direitos à previdência social, ou se formula a intenção de reduzir os altos custos das transferências bancárias para o exterior.

Porém aspectos objetivos não detêm os adversários direitistas do pacto: para eles trata-se de uma questão de princípio. E aí gostam de esconder que o contrário de uma sociedade global, multilateral, só pode ser um grande número de Estados nacionais, etnicamente delimitados com rigor – e, de longe, as leis raciais nazistas acenam, sardonicamente.

Por isso a luta continuará, e o próximo palco já está definido: será a eleição para o Parlamento Europeu, em maio de 2019. Assim é bom que pelo menos a chefe de governo da Alemanha já tenha firmado sua posição.

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Martin Muno Imigrante digital, interessado em questões de populismo e poder político.
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