Opinião: O teatro de Netanyahu
26 de abril de 2017É assim que se faz: deixa-se que algo não aconteça, aniquilando tudo que teria sido realmente importante. Com seu show em torno do cancelamento de seu encontro com o ministro do Exterior e vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, o primeiro-ministro e ministro do Exterior israelense, Banjamin Netanyahu, impediu que fossem discutidas questões de conteúdo.
Provavelmente, ele não queria falar de temas considerados importantes por Gabriel em sua visita: sobre a solução de dois Estados, sobre a política de assentamentos de Israel ou as novas leis sobre organizações não governamentais, que fazem lembrar leis similares na Rússia e na Turquia.
Netanyahu teria optado, possivelmente, em falar sobre o Irã, arqui-inimigo de Israel. Mas quanto ao conflito em seu próprio país, ele os teria colocado à sombra da guerra na Síria e da luta global contra o terrorismo.
E é aqui onde se encontra o risco: se nada avança nesse conflito ancestral no Oriente Médio, aumenta a ameaça de radicalização de uma geração inteira de jovens palestinos – tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia. E essa radicalização não leva mais o nome de Hamas, mas de "Estado Islâmico" (EI).
Evitar que isso aconteça é, realmente, do interesse comum de Israel e das diferentes facções palestinas. E quando se identifica um interesse comum, é dado o primeiro passo para verdadeiras negociações. Nessa área, a Alemanha, a Europa podem entrar em cena. Embora se saiba que Israel não confiaria em nenhum outro país que não fosse os EUA para garantir a sua segurança – o apoio europeu no desenvolvimento econômico nos territórios palestinos é algo que pode ser cogitado por todas as partes.
Nem o trabalho de cooperação nem as relações teuto-israelenses vão padecer devido ao cancelamento do encontro. A ligação especial, o comprometimento e a responsabilidade da Alemanha frente a Israel não serão abalados por esse motivo.
No dia 25 de abril, os dois ministros do Exterior não se falaram. Um dos motivos foi que o governo em Berlim cancelou as consultas bilaterais entre a Alemanha e Israel. Portanto, a recusa de Netanyahu também é uma evidente retaliação. Isso é lamentável, pois ministros do Exterior deveriam ser capazes de conversar mesmo na situação mais difícil.
O desenvolvimento mais desagradável de tudo isso é que Netanyahu recebe aplausos domésticos ao tentar proibir conversas com organizações que não lhe convêm. Isso se parece com Rússia e Turquia, mas não com a única democracia na região, que Israel – ainda – é. Também sobre isso, os ministros do Exterior deveriam conversar urgentemente.