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Obama poderia ter conseguido mais de Castro

Jan D. Walter19 de dezembro de 2014

É correto conduzir conversações com Cuba. Mas os Estados Unidos deveriam ter exigido reformas concretas nos direitos humanos na ilha, opina o jornalista Jan D. Walter, da redação brasileira da DW.

Foto: DW/P. Henriksen

A notícia em si foi uma surpresa. Não exatamente surpreendente, porém perturbante, foi o entusiasmo quase unânime nas reações internacionais. O "quase" se deve ao Partido Republicano e à oposição cubana. Mesmo sem pertencer a um desses dois grupos, também me alinho entre os chatos da história.

É verdade que o embargo norte-americano nunca chegou perto de erradicar a ditadura cubana. Também é correto que foi o povo cubano, e não os comandantes, que sofreu com a incapacidade do regime de fornecer ou até mesmo permitir prosperidade para os seus cidadãos. E concordo que um comércio pujante entre ambos os países poderia ter resultado em menos pobreza na ilha comunista nos últimos 54 anos.

Mas insisto que não há evidência convincente de que o embargo e a falta de relações com os EUA são os maiores culpados pela miséria cubana. Porque a miséria cubana não consiste apenas em questões econômicas, mas na falta de liberdade. É o regime dos irmãos Fidel e Raúl Castro que oprime qualquer opinião oposta à linha oficial do partido. A ONG Cuba Archive, que documenta as violações dos direitos humanos do regime castrista, conta mais de 8.000 vítimas mortais em 55 anos. Esse número inclui mortes de combate, mas também quase 6.000 fuzilamentos, assassinatos e desaparecimentos.

Quem acha que a época de repressão violenta passou há muito tempo está equivocado. Em 2008, ano da publicação do Cuba Archive, foram registradas 42 mortes em prisões cubanas. Em 2012, o ativista de direitos humanos Oswaldo Payá, vencedor do prêmio Sacharow, morreu num acidente de carro. O veículo saiu da estrada sem motivo evidente e se chocou contra uma árvore. O governo recusou o pedido da família de uma investigação imparcial.

Se hoje há menos presos políticos é porque o regime utiliza outros meios de repressão. Segundo dissidentes, residentes da ilha são ameaçados ou agredidos psíquica e fisicamente. Ou pressionados com sanções sociais, como a demissão de parentes de empregos estatais ou de universidades.

São esses os mecanismos que causam a miséria cubana.

Quem evitou a implosão desse sistema ditatorial depois dos anos 1970 foram mecenas comunistas. Justamente na hora em que o último mecenas, a Venezuela, perdeu a possibilidade de apoiar o regime castrista, o presidente Obama abriu as portas para mais recursos. E, em vez de entrar em negociações duras, em vez de exigir reformas de direitos humanos em troca de recursos econômicos, ele se contentou com uma troca desigual de presos – três contra um – e o anúncio de mais liberações de presos políticos em Cuba – que sempre podem ser oprimidos de outras maneiras.

Para que não haja mal-entendidos: apoio a iniciativa de retomar conversações, porque quem não se fala não se entende. Quero que o povo cubano prospere e viva em liberdade. O que critico é que um presidente democrático se renda a um ditador, perdendo a oportunidade de obter melhoras substanciais.

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