Na avalanche diária de notícias falsas, tempestades de indignação on-line e tiradas cheias de ódio, as histórias positivas podem acabar sendo negligenciadas, escreve a jornalista Astrid Prange.
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Pode parecer que nunca houve tantas más notícias quanto agora. Guerra, mudanças climáticas, doenças, fome - todos os dias, um novo desastre. O mundo em que vivemos é frágil. Em tempos de desastre, empatia e solidariedade são importantes. A humanidade não apenas cria destruição: ela também é capaz de superá-la.
Em outubro, por exemplo, o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, e o presidente da Eritreia, Isaias Afewerki, assinaram um tratado de paz após 30 anos de guerra. Foi um acordo histórico que acabou com décadas de derramamento de sangue e deu motivo de esperança aos povos dos dois países.
Tentativas também foram tomadas para a reconciliação na península coreana. Em 2018, três reuniões de cúpula aconteceram entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Os países concordaram em retirar todos os soldados e armas da Área de Segurança Conjunta de Panmunjom, e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, planeja viajar para a Coreia do Sul pela primeira vez em 2019.
Na avalanche diária de notícias falsas, tempestades de indignação on-line e tiradas cheias de ódio, as histórias positivas podem acabar sendo negligenciadas.
Em meio ao caos generalizado do Brexit, passou praticamente sem ser notado o fato de a Grécia ter cumprido todos os termos do programa de crédito da União Europeia depois de oito longos anos - tornando-se o terceiro país a fazê-lo, depois da Irlanda e de Portugal.
Milhões de pessoas que saíram às ruas na Hungria, Polônia e Romênia em 2018 para protestar pela democracia e contra a corrupção também mereciam mais da nossa atenção. Em vez disso, as notícias se concentraram na desilusão com a democracia e a ascensão da extrema direita.
Boas notícias demonstram perseverança. A longo prazo, são elas que mudam o mundo. Elas não desaparecem no éter digital, como fazem os tuítes do presidente dos EUA, Donald Trump, do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e da líder da AfD no Parlamento alemão, Alice Weidel.
Pegue o exemplo da energia renovável. Mesmo que os Estados Unidos tenham se retirado do Acordo de Paris, cada vez mais a produção global de eletricidade é proveniente de energia renovável. Segundo a Agência Internacional de Energia, as fontes verdes representam 25% da produção internacional. Na Alemanha, a parcela chega a 38%.
Os refugiados também estão sendo integrados à sociedade alemã, mesmo que a imprensa continue a falar de uma "crise de refugiados". Ingo Kramer, presidente da Confederação Alemã de Associações de Empregadores, disse recentemente que Angela Merkel estava certa ao dizer ao país em 2015 "Nós vamos conseguir". O país era, de fato, capaz de ajudar um grande número de pessoas. Mais de 400 mil dos cerca de 1 milhão de refugiados que chegaram à Alemanha nos últimos anos têm agora contratos de trabalho ou estão em cursos de formação técnica.
Pessoas podem superar crises, sobreviver a doenças, proteger vidas, reduzir a pobreza e reunir esforços para minimizar os danos ao meio ambiente. Elas representam o triunfo do senso comum e da empatia sobre o discurso de ódio e as teorias da conspiração.
Isso pode soar estranho em vista de todas as guerras e conflitos em andamento, mas 2018 foi, em geral, um ano bom para a maioria das pessoas. Segundo o Banco Mundial e a Organização Mundial de Saúde, a pobreza global está diminuindo, mais e mais domicílios (quase 90%) têm acesso à eletricidade. As transmissões de doenças, como malária e tuberculose, estão em queda, assim como as taxas de mortalidade materna e infantil.
Isso não foi mencionado em tuítes à meia-noite ou protestos raivosos. Pelo contrário, trata-se do resultado de iniciativas de pessoas que acreditam na mudança e que contribuíram para sua implementação gradual, um passo de cada vez.
Isso nos mostra que boas notícias nunca foram tão importantes quanto hoje. Sem elas, perdemos a fé na possibilidade de um mundo melhor. Se perdermos essa fé, também perderemos nossa motivação para lutar por direitos e pela paz.
Boas notícias perduram, mesmo quando novos desastres, grandes e pequenos, passam pelas telas de nossos dispositivos sem parar. Este será o caso em 2019. Feliz Ano Novo!
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Alegria e dor, ódio e solidariedade – não faltaram momentos emotivos no ano que termina.
Foto: Getty Images/AFP/R. Leite
Facada
O então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro é atingido no abdômen por um golpe de faca no dia 6 de setembro, durante evento de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais. Após o atentado, ele passou por duas cirurgias e esteve três semanas hospitalizado. O autor do ataque, Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, está preso na penitenciária federal de Campo Grande.
Foto: Getty Images/AFP/R. Leite
Favela em chamas
Eles já tinham pouco, e tudo que tinham sucumbiu às chamas. Thomas Mukoya fez esta imagem durante o incêndio que afetou a favela de Kijiji, em Nairobi, capital do Quênia, no dia 28 de janeiro. A comunidade inteira foi destruída pelo fogo. Falta de água e dificuldade de acesso dos bombeiros a certas áreas dificultou o combate ao fogo. Quatro pessoas morreram, mais de 6 mil perderam seus lares.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Brincadeira entre políticos em tempos sérios
Era uma terça-feira, 6 de fevereiro, às 9h. Pouco antes de um debate do Parlamento Europeu, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker se posiciona sorrateiramente atrás de Guy Verhofstadt, que lê jornal, e passa a mão na cabeça do político belga, desmanchando-lhe o penteado. O flagrante é prova de que até em tempos de Brexit e ultranacionalismo alguns líderes nunca perdem o humor.
Foto: Reuters/V. Kessler
Atriz pornô no centro das atenções
A estrela pornô Stephanie Clifford, conhecida como Stormy Daniels, calça seus sapatos após revista para entrar num tribunal de Nova York. Numa briga judicial com Donald Trump, ela afirma ter tido um caso com o bilionário. A artista recebeu 130 mil dólares do advogado dele para ficar calada sobre o assunto – o que ela não fez.
Foto: Reuters/S. Stapleton
Dois homens, uma fronteira
O líder norte-coreano Kim Jong-un e o presidente sul-coreano Moon Jae-in se dão as mãos na fronteira entre seus países no dia 27 de abril. Eles ressaltam no encontro histórico ter intenção de suspender todas as animosidades e começar "uma nova era de paz" entre as duas Coreias.
Foto: Reuters/Korea Summit Press Pool
A prisão de Lula
O ex-presidente Lula se entrega a agentes da Polícia Federal após passar dois dias com apoiadores na sede de um sindicato em São Bernardo do Campo (SP). O petista foi condenado a 12 anos de prisão em janeiro – e acabou ficando de fora da eleição presidencial.
Foto: Reuters/L. Benassatto
É campeão!
Os jogadores da seleção francesa jogam para o alto o técnico Didier Deschamps comemorando a conquista da Copa do Mundo na Rússia, após derrotarem a Croácia na final do torneio por 4 a 2. O Brasil foi eliminado nas quartas de final, ao perder por 2 a 1 para a Bélgica.
Foto: Reuters/K. Pfaffenbach
O que sobrou do tsunami
Um bicho de pelúcia e um balde com algumas peças de roupa. Isso é tudo o que essa mulher de Celebes conseguiu recuperar após um tsunami atingir essa ilha da Indonésia no final de setembro. A casa dela foi destruída, suas crianças foram dadas como desaparecidas. Mais de 2 mil pessoas morreram na catástrofe.
Foto: Reuters/J. Silva
Olho no olho
Um cidadão palestino e um soldado israelense travam uma discussão acalorada por causa de uma ordem de Israel para fechar uma escola palestina perto de Nablus, na Cisjordânia. A imagem é reflete simbolicamente as tensões contínuas entre palestinos e israelenses.
Foto: Reuters/M. Torokman
Vencendo rios e muros
Luis Acosta segura sua filha Angel Jesus, de 5 anos, ao atravessar o rio Suchiate, na fronteira entre Guatemala e México. Eles fazem parte da caravana de migrantes da América Central que viajam a pé em direção aos EUA, apesar de todos os perigos do caminho. O presidente americano, Donald Trump, os classificou como "ataque contra nosso país".
Foto: Reuters/A. Latif
Inferno no paraíso
Malibu, na Califórnia. Este é um lugar belo, lar de muitas estrelas de cinema e da música pop. Mas no começo de novembro o paraíso foi invadido pelas chamas. Pelo menos 85 pessoas morreram e diversas mansões foram destruídas pelos incêndios florestais que afetaram a região.
Foto: Reuters/E. Thayer
Fim de uma era
"Foi uma honra." Estas foram as últimas palavras do último discurso de Angela Merkel como presidente de seu partido. Após mais de 18 anos de liderança, ela abriu mão da reeleição, e os membros da União Democrata Cristã (CDU) escolheram Annegret Kramp-Karrenbauer como nova líder da legenda.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/E. Contini
Marielle
Cidadãos comovidos se abraçam no Rio sob um desenho representando Marielle Franco. A vereadora foi morta a tiros na noite de 14 de março no bairro do Estácio, na região central da cidade. O assassinato dela e do motorista Anderson Gomes chocou o país e provocou reações de indignação em todo o mundo..Marielle era uma conhecida ativista dos direitos das mulheres e da inclusão social.