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Os críticos de Trump são silenciados

11 de setembro de 2019

Com partida de John Bolton, um militarista inconsequente deixa Casa Branca. Isso pode ser um bom sinal para diplomacia, mas também mostra que Trump não tolera vozes discordantes no seu círculo, opina Oliver Sallet.

John Bolton (esq.) ousava conter impulsividade de TrumpFoto: Reuters/L. Millis

Com partida do assessor John Bolton, um militarista inconsequente deixa Casa Branca. Isso pode ser um bom sinal para diplomacia, mas se cala uma das últimas vozes críticas no entorno de Trump, opina jornalista Oliver Sallet.

Após um ano e meio no cargo, foi uma saída memorável para o assessor de Segurança Nacional John Bolton. Um reconhecido "falcão", ele era um linha-dura na política externa, que sempre exigiu abertamente ataques militares e que foi, acima de tudo, decididamente contra qualquer forma de diplomacia com opositores políticos.

Por mais difíceis que fossem suas posições, John Bolton também foi alguém que sempre conteve a impulsividade de Donald Trump. Sem ele, outra voz crítica se cala no círculo de Trump e provavelmente será substituída, como já aconteceu em outros casos, por uma figura submissa ao presidente americano.

Tomemos o caso do procurador-geral Jeff Sessions, que se recusou a demitir o inconveniente procurador especial Robert Mueller e se eximiu de tomar parte no inquérito envolvendo a interferência da Rússia nas eleições de 2016, declarando que estava impedido de atuar por ter se envolvido com a campanha do presidente. 

Ele foi instado a renunciar, e o presidente Trump o substituiu pelo muito mais afável William Barr, que imediatamente provocou protestos dos democratas com sua interpretação distorcida do relatório Mueller, uma ação que contou com o apoio claramente o apoio de seu chefe.

Também houve a renúncia do altamente experiente secretário de Defesa Jim Mattis, que jogou a toalha depois que Trump anunciou a retirada das forças americanas da Síria, algo que pegou muitos de seus assessores de surpresa. Mattis era considerado uma das últimas vozes racionais no gabinete ministerial de Trump.

Bolton não pode realmente ser chamado de uma voz da razão. Como um dos arquitetos da Guerra do Iraque sob George W. Bush, ele pode ser facilmente acusado de desestabilizar todo o Oriente Médio com suas ações. Mais recentemente, ele exigiu de Trump um ataque militar contra o Irã.

Bolton, como o presidente Trump, é um opositor do multilateralismo, mas ao mesmo tempo sua atitude belicosa entrou em choque a promessa eleitoral central do presidente: manter os EUA fora de crises e conflitos internacionais.
Mas Bolton também foi um crítico ruidoso das tentativas frustradas de negociação de Trump, especialmente aquelas em que o presidente tentou se aproximar de déspotas estrangeiros em pé de igualdade.

As reuniões infrutíferas de Trump com Kim Jong-un, por exemplo, foram um sucesso de relações públicas para o ditador norte-coreano. E se os talibãs tivessem sido convidados para uma reunião em Camp David, isso os colocaria à altura de distintos chefes de Estado internacionais.

Esse último exemplo foi uma grande pedra no sapato de Bolton, pois ele não tinha tempo para diplomacia com adversários, particularmente radicais islâmicos como os talibãs.

A saída de John Bolton pode ser uma boa notícia para a diplomacia americana, uma recusa à belicosidade americana e um sinal de esperança para o conflito estagnado com o Irã.

Mas o destino de Bolton também mostra mais uma vez como Donald Trump lida com os críticos que cruzam seu caminho. Aqueles que não papagaiam o que o presidente diz têm que partir.
 

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