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Opinião: Os Jogos de Kim

Peter Sturm rg
28 de janeiro de 2018

É a Coreia do Sul que sedia os Jogos Olímpicos de Inverno, mas todos falam apenas da presença dos norte-coreanos. Trata-se de mais uma jogada do estrategista de Pyongyang, afirma o jornalista Peter Sturm.

Jogadoras de hóquei norte-coreanas chegam a centro de treinamento na Coreia do SulFoto: picture-alliance/Pool Kyodo News/S. Kyung-Seok

Não é preciso ser um cínico para considerar o "espírito olímpico" uma invenção de dirigentes esportivos empreendedores. E também não é nenhuma novidade que se use e abuse do esporte, supostamente tão apolítico, para fins políticos. O mais recente capítulo dessa história sem fim está sendo escrito pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un. Na sua luta por sobrevivência política – e talvez também física – ele recorre, desde o início do ano, a meios mais sutis que bombas nucleares e mísseis de longa distância.

Peter Sturm é jornalista do jornal alemão Frankfurter Allgemeine ZeitungFoto: FAZ

Dentro de poucos dias, a Coreia do Sul vai sediar, já pela segunda vez, Jogos Olímpicos. Isso é algo que traz muito prestígio internacional. Kim Jong-un, porém, com algumas poucas frases de seu discurso de Ano Novo, conseguiu sequestrar para si esses Jogos. Agora, o mundo todo acompanha a delegação norte-coreana que se dirige para o sul.

Do ponto de vista esportivo, ela não vai alcançar muita coisa. As jogadoras de hóquei vão, possivelmente, até mesmo fazer com que o time sul-coreano perca suas chances. Afinal, equipes formadas segundo critérios políticos têm menos valor esportivo. A Alemanha já teve uma experiência ruim nesse sentido: na Copa do Mundo de 1938, depois da anexação da Áustria, com a formação de uma equipe "grã-alemã".

Se o acerto sobre um time unificado de hóquei já gerou muito descontentamento na Coreia do Sul, a mais recente proposta da Coreia do Norte está ainda mais longe de ser aceita. Todos os coreanos deveriam – sem a participação do resto do mundo – cuidar da reunificação do país, conforme pronunciamento da Coreia do Norte nesta quinta-feira (25/01).

Não se deve tomar isso ao pé da letra. Kim Jong-un sabe que seu regime não tem como ganhar a concorrência dos sistemas com a próspera Coreia do Sul. E nem o mais amigável dos regimes do sul seria ingênuo a ponto de revigorar economicamente o ditador no norte sem contrapartidas.

Por isso, a investida de Kim mira justamente algo que de fato une as Coreias: o sentimento de, como pequena nação, ser empurrada para lá e para cá pelas grandes. Se a Coreia do Norte conseguir "nacionalizar" claramente, por meio de seu show de propaganda, o estado de espírito no sul, então Kim Jong-un não terá apenas sequestrado os Jogos Olímpicos – ele terá também afastado a Coreia do Sul de seus principais aliados. E isso combina perfeitamente com a estratégia de sobrevivência do enxadrista de Pyongyang.

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