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Estado de DireitoMianmar

Otimismo ingênuo ameaça movimento de protesto de Mianmar

Rodion Ebbighausen
3 de abril de 2021

Violência dos últimos dias mostra que o conflito birmanês está num beco sem saída. Na falta de apoio internacional, em vez de sonhos de luta confederada, é preciso debate e pragmatismo, opina Rodion Ebbighausen.

Flores cobrem slogan "Mianmar está sangrando" e bandeira nacional birmanesa
"Mianmar está sangrando": birmaneses protestam contra golpe militar com campanha nacional de floresFoto: REUTERS

Duas narrativas dominam as redes sociais em Mianmar: a primeira trata da brutalidade e absoluta abjeção moral dos militares; a outra, da disposição ao sacrifício e da luta decidida pela democracia e justiça dos participantes dos protestos. Ambas as narrativas estão combinadas à certeza de que o bem vencerá o mal.

Ninguém duvida da coragem e boas intenções dos manifestantes, mas o movimento de protesto fracassará, se continuar alimentando otimismo ingênuo em vez de impiedoso realismo. Ele precisa ter em mente que ninguém virá apoiá-lo contra as Forças Armadas.

As Nações Unidas, os Estados Unidos e a União Europeia condenarão verbalmente os acontecimentos no país, imporão algumas sanções isoladas contra a junta militar, mas não interferirão diretamente no conflito. Tampouco o apelo de 45 antigos (!) chefes de governo e Estado, para que a ONU finalmente intervenha, mudará alguma coisa.

Erro de avaliação

No Conselho de Segurança das Nações Unidas, a China e a Rússia bloquearão tudo o que possa conferir ao assim chamado Ocidente uma influência robusta em Mianmar. Assim, no nível internacional não existe nenhum instrumento para colocar os generais em Naypyidaw seriamente sob pressão.

A diplomacia silenciosa da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) também pouco efeito terá. A Tailândia, cujo atual governo tomou o poder em 2014 através de um golpe de Estado, o autoritário Laos e o Vietnã participaram no fim de semana das festividades do Dia das Forças Armadas na capital birmanesa, enquanto as forças de segurança matavam mais de 100 manifestantes. Portanto não há por que esperar respaldo diplomático por parte do Asean.

Alguns adeptos do movimento de protesto e o anti-Parlamento no exílio CRPH sonham com um Exército confederado: após décadas de combate contra o governo central, os diversos grupos étnicos armados se uniriam aos ativistas para, juntos, combaterem os militares. Já houve uma tentativa assim no começo da década de 1990, a qual fracassou.

Conspira contra a iniciativa o fato de os interesses dos grupos armados serem extremamente díspares. E a China é quem dá o voto decisivo em exércitos rebeldes influentes como a United Wa State Army. Além disso, o inimigo do meu inimigo pode, por vezes, ser meu amigo, mas só enquanto o inimigo comum existir.

Acima de tudo, é um erro de avaliação acreditar que um exército confederado representaria um adversário militar sério para as Forças Armadas birmanesas. Nem mesmo todos os grupos rebeldes e uma tropa de protesto inexperiente, juntos, seriam páreo para o Tatmadaw de Mianmar, bem equipado e com experiência de combate.

Quando o sonho vira pesadelo sem fim

Embora muitos cidadãos birmaneses tenham a sensação de estar em plena guerra civil, a verdade é que os militares até agora não empregaram armas pesadas contra a população. Em Yangon e Mandalay, ainda não há tanques de guerra e helicópteros disparando contra os manifestantes.

Por mais amedrontador que seja, o parafuso da escalada da violência militar ainda pode dar muitas voltas, como há dez anos vem provando a guerra civil da Síria. Desse modo, o sonho de um exército confederado pode se transformar num pesadelo sem fim.

Os manifestantes não têm como vencer uma confrontação direta com as Forças Armadas: faltam apoio internacional, dinheiro, experiência e uma unidade resistente entre as etnias e o movimento de protesto.

Em vez de arriscar mais vidas em batalhas de rua sem chance, é preciso um debate sobre o que é possível alcançar no longo prazo e em inúmeros pequenos passos. Em vez de sonhos otimistas de vitória rápida, é preciso um cálculo duro, em termos da política real, no sentido de uma perspectiva de longo prazo.

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Rodion Ebbighausen é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

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