Ofensiva no Paquistão
20 de outubro de 2009Os exércitos deste mundo são conhecidos por darem a suas grandes operações militares nomes incomuns, nem sempre adequados. O exército paquistanês batizou sua operação "Caminho para a Libertação". Se esse rótulo é cabível, ficar-se-á sabendo em algumas semanas, talvez meses. Mas já agora está claro: o país precisa libertar-se urgentemente do extremismo. E pelo que parece o exército paquistanês ao menos tenta ser o "libertador".
Nas últimas semanas, o Paquistão sentiu, mais uma vez, o terror dos talibãs: ao que parece, os radicais islâmicos atacaram onde, quando e quantas vezes quiseram. Se fosse necessário um motivo adicional para a ofensiva no sul do Waziristão, os talibãs o teriam fornecido.
Realmente, o momento é dos mais oportunos: a população sofreu demais com os ataques terroristas dos últimos meses. Os soldados tiveram o apoio mental da população já há alguns meses, quando baniram os talibãs do vale do Swat.
É difícil que essa situação tenha mudado. Todos os partidos, exceto alguns poucos de cunho religioso, são a favor da ofensiva: uma constelação quase histórica.
Ministros, militares e cidadãos, todos unidos contra o terror. E isso num país do qual muitas vezes se diz que não é o Estado que mantêm as Forças Armadas, e sim as Forças Armadas têm um Estado. Só resta a operação ser um sucesso. Mas justamente este "só" significa muito para o Paquistão e o Ocidente.
Por muito tempo, o sul do Waziristão era uma espécie de "reserva natural" para os talibãs, terroristas da Al Qaeda e também para o treinamento de ocidentais. Se isso mudar agora, será bom. Mas os extremistas não deixarão o local por livre e espontânea vontade. Peritos preveem que isso tudo ainda vá custar muito sangue.
Mas infelizmente o Paquistão não tem outra opção: o país fortemente apoiado pelo Ocidente nos anos 1980 cultivou um "monstro de Frankenstein" chamado extremismo. Nos anos 1990, fomentou os talibãs abertamente − e o Ocidente nem se importou.
Depois de 2001, o monstro do extremismo expandiu-se nas áreas dos clãs − na época, o exército ainda acreditava ter a criatura sob controle. Combatia-a um pouco, quando o Ocidente esbravejava, e a afagava quando lhe parecia conveniente.
Agora esse Frankenstein cresceu demais. Só nos últimos meses parece ter ficado claro às Forças Armadas que os talibãs se tornaram perigosos para todo o Paquistão e, com isso, para elas próprias.
Por isso os militares decidiram-se agora pela operação com o sonoro nome Caminho da Libertação. Eles estão lutando não só pela libertação do país, mas deles mesmos. Também para o Ocidente seria importante que a operação atingisse seu objetivo.
Autor: Kai Küstner
Revisão: Augusto Valente