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Estado de DireitoBrasil

Para Bolsonaro, a coisa está ficando apertada

Thomas Milz
Thomas Milz
9 de fevereiro de 2024

Um futuro atrás de grades acena para o populista de direita, com acúmulo de indícios de que planejava derrubar Lula, apoiado pelas Forças Armadas. Para a democracia brasileira, um teste de resiliência, opina Thomas Milz.

Ao todo, PF realizou 33 mandados de busca e apreensãoFoto: Eos80d/TheNEWS2/ZUMAPRESS.com/picture alliance

A corda se aperta cada vez mais em volta do pescoço de Jair Messias Bolsonaro. Nesta quinta-feira (08/02), a Polícia Federal cumpriu 33 mandados de busca e apreensão, também contra ex-ministros do governo do populista de direita. Três integrantes de seu núcleo de colaboradores foram detidos.

Segundo a polícia, a operação Tempus Veritatis se dirigiu contra uma organização criminosa que visava um golpe de Estado e a eliminação do Estado democrático de direito. Por enquanto o ex-presidente só teve que entregar seu passaporte, o Judiciário ainda se abstém de prendê-lo.

Pois no momento a questão é reunir provas de que Bolsonaro e seus cúmplices pretendiam de fato anular o resultado das eleições de outubro de 2022 através de um golpe. A julgar pelos relatos da mídia, nesta quinta-feira os investigadores atingiram tal meta.

Até agora, Bolsonaro e seu círculo negavam a existência de um plano de golpe de Estado, alegando perseguição política por parte do governo de seu arqui-inimigo, Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente excluía também qualquer conexão com os excessos de violência de seus adeptos em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.

Planos de golpe: Marinha teria concordado

É fato publicamente comprovado que, antes das eleições de 2022, Bolsonaro espalhou dúvidas sobre o sistema de urnas eletrônicas, sabidamente seguro. Perante embaixadores estrangeiros, ele fez uma palestra sobre urnas supostamente manipuladas, enquanto seus colaboradores nas Forças Armadas e em seu Partido Liberal (PL) urdiam planos abstrusos para verificar a funcionalidade dos terminais.

Agora novos detalhes estão vindo à tona. Por exemplo, que Bolsonaro tentou recrutar militares para um golpe contra o presidente eleito Lula. Logo depois da invasão da Praça dos Três Poderes por bolsonaristas exaltados, durante uma busca na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres as autoridades encontraram indícios de planos para derrubar o governo eleito.

Depois disso, as investigações ganharam impulso graças à delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Assim, consta que a PF estaria de posse de um vídeo de julho de 2022 – ou seja, cerca de três meses antes do pleito presidencial – em que Bolsonaro discute com seus assessores os detalhes de um possível golpe.

Além disso, nesta quinta-feira os investigadores teriam encontrado na sede do PL um documento com planos para a decretação do estado de sítio em fins de 2022. Entre as medidas, constaria a prisão de dois ministros do Supremo Tribunal Federal e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Bolsonaro teria apresentado esses planos às Forças Armadas: enquanto a Aeronáutica e o Exército se recusaram, a Marinha prontificou-se a participar do golpe.

Teste de resiliência para a democracia

A conclusão dessa operação é decisiva para o futuro da democracia brasileira. Foram ultrapassadas tantas "linhas vermelhas", que é improvável o ex-presidente ainda poder sair desta como homem livre: confirmando-se as suspeitas, ele e seus cúmplices devem ser presos por planejar um golpe de Estado.

Isso incluiria também militares de alta patente, num verdadeiro teste de estresse para a resiliência das instituições democráticas brasileiras. Até agora, as Forças Armadas se consideram intocáveis, assumindo um posto de exceção dentro da sociedade. Ter que se apresentar à Justiça "secular" é impensável para elas.

O ex-vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, exortou na quinta-feira os militares a não aceitarem a "condução arbitrária de processos ilegais" – uma primeira tentativa de intimidar o Judiciário. Ceder a ela, no entanto, abalaria profundamente a credibilidade das instituições democráticas. O Brasil não pode se dar a esse luxo.

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente da DW.

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