O presidente Emmanuel Macron não teve um verão muito feliz. A criação de um cargo oficial de primeira-dama para sua mulher deu errado e foi mal recebida na imprensa, assim como a divulgação dos gastos com a maquiadora que o prepara para aparecer na televisão. A popularidade dele está em queda livre. Na verdade tudo isso é insignificante, mas mostra com que impaciência os franceses acompanham seu novo presidente. A reforma trabalhista é que vai mostrar se ele tem condições de governar e vai decidir sobre a sua sobrevivência política.
Os antecessores de Macron, Nicolas Sarkozy e sobretudo François Hollande, fracassaram retumbantemente na tentativa de reformar as enferrujadas leis trabalhistas. O primeiro não aguentou o ronco das ruas, e o socialista diluiu tanto as reformas que, no fim, não tinha mais apoio em nenhum dos lados.
Os socialistas fracassaram na última eleição, e mereceram. E como também na direita o que predomina é o conflito, com republicanos e Frente Nacional ocupados em brigas internas, Macron tem, politicamente, as mãos livres para agir. Os seus próprios deputados podem até cometer erros e se envolver em escândalos, mas garantem uma maioria parlamentar ampla e estável ao presidente.
Além disso, o poder dos sindicatos diminuiu. O moderado CFDT anunciou, apesar de meses de debates com o governo, sua esperada rejeição às reformas, mas não vai sair às ruas contra elas. Os linhas-duras da CGT, porém, já estão rufando os tambores e querem levar os franceses às barricadas a partir de meados de setembro.
Porém, o que interessa a eles é menos a proteção dos direitos dos trabalhadores, como afirmam suas bandeiras, mas a própria sobrevivência. A esquerdista CGT perde membros e influência. Só 11% dos franceses estão em sindicatos. Os gritos são mais altos do que o número de trabalhadores representados. Ninguém precisa, portanto, se intimidar com um mar de bandeiras vermelhas e uma elevada disposição para o quebra-quebra – os sindicatos radicais falam em nome de uma pequena minoria de franceses.
Porém, eles são reforçados pelos esquerdistas de Jean-Luc Mélenchon. Ele representa a única oposição que funciona e alcançou 17% dos eleitores, um resultado expressivo. Seu furor de tons comunistas e sua disposição para a luta não devem ser subestimados.
Mas, mesmo que em setembro as pedras voltem a voar e o trânsito seja interrompido em Paris, Macron precisa encarar tudo isso. A maioria dos franceses não vai sair às ruas, e muitos querem as reformas, mas o presidente precisa voltar a se comunicar com a população. Sua atitude divina e o celebrado distanciamento o prejudicam. Ele precisa se mostrar destemido, como na campanha, e buscar o contato com os trabalhadores, mesmo que seja vaiado.
O direito trabalhista francês é um monstro. Essas centenas de páginas devem ser jogadas fora. É um milagre que ainda haja postos de trabalho na França. Por isso é correto que Macron, com a sua reforma, mire sobretudo nas pequenas e médias empresas. Ele precisa tornar a vida delas mais fácil, pois é lá que está o maior potencial de criação de empregos.
Não se trata de acabar com o Estado de bem-estar social e com os direitos dos trabalhadores na França, isso é propaganda. Trata-se da abertura para negociações entre empresas e sindicatos, mais espaço para as pequenas empresas, uma certa flexibilização da proteção contra a demissão. Hoje os trabalhadores na França se dividem em duas classes: aqueles que têm postos de trabalho protegidos e os que têm contratos temporários, sem chance de entrar no sistema. A prova de que isso não funciona é o desemprego, que está em torno de 10% há anos.
Para o presidente, porém, é tudo ou nada. Ele precisa vencer essa primeira rodada da disputa e fazer a reforma dar certo. Do contrário, vai virar um "pato manco" já no primeiro semestre na presidência. Durante uma viagem ao Leste Europeu, ele reclamou que é impossível reformar a França e que os franceses têm muitas expectativas. Ele deveria tomar mais cuidado, pois essas são coisas que se pode pensar, mas não dizer – elas soam arrogantes.
E arrogância é um dos grandes riscos do presidente. Ele precisa arregaçar as mangas e botar a mão na massa, mesmo que se considere fino demais para o corpo a corpo político. Aqui o líder francês tem algo a aprender com a chanceler federal Angela Merkel: não deixe o poder subir à cabeça e mantenha os pés no chão. Do contrário, ele poderá fracassar já no primeiro mandato.