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Opinião: Paz olímpica não vale para a Ucrânia

12 de agosto de 2016

Cheiro de guerra que vem do caldeirão do Kremlin dá vantagem estratégica a Putin, que não pode arriscar um conflito aberto por causa de uma faixa de terra na Ucrânia, opina o correspondente Christian Trippe.

Christian Trippe
Christian Trippe é correspondente da DW em KievFoto: DW

A embaixada da Rússia em Kiev está órfã, os diplomatas foram embora e só os guardas permanecem no local. Há alguns dias, a indicação de um novo embaixador falhou porque o governo ucraniano lhe negou as credenciais. Em Moscou, há meses que não há mais embaixador da Ucrânia. Na prática, portanto, não há mais relações diplomáticas entre os dois países – sem que tenha havido uma ruptura formal.

Pessimistas veem nesse limbo diplomático mais um sinal da iminente "grande" guerra entre os dois países. Há, de fato, alguns indícios: as batalhas nas linhas demarcatórias no leste da Ucrânia se intensificam a cada semana, e o Acordo de Minsk é só um papel manchado de sangue. Observadores relatam que armas pesadas estão sendo levadas para o front. Especialistas militares na Rússia e em países da Otan falam sobre a movimentação de grandes formações militares na fronteira. Fala-se em reagrupamento ou deslocamento. Ambos soam ameaçadores.

E agora isso: o serviço secreto russo FSB afirma ter frustrado uma ação terrorista da Ucrânia na Crimeia, e dois russos teriam morrido nessa suposta agressão ucraniana. Como resultado imediato, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que não haverá mais encontro de cúpula sobre o Acordo de Minsk. Será que a Rússia busca apenas um pretexto para atacar?

A guerra da Rússia contra a Geórgia – há exatos oito anos – também não irrompeu em agosto? E, também daquela vez, não foram os Jogos Olímpicos que desviaram a atenção do mundo? O Ocidente não parece paralisado – os Estados Unidos em meio a uma campanha política, os europeus enfraquecidos? Quando, se não agora? Essas são as perguntas que os linhas-dura no Kremlin devem se fazer, dando vazão aos seus ímpetos expansionistas. Afinal, dentro da visão imperialista de uma Grande Rússia, a anexação da Crimeia e o apoio militar disfarçado aos separatistas ucranianos certamente não serão o último ato dessa história.

Suposições desse tipo, interpretações de ações militares e os acontecimentos no leste da Ucrânia resultam num coquetel que cheira a guerra. É uma poção que vem do caldeirão do Kremlin e cujo cheiro causa stress em Kiev e mal-estar em Bruxelas, Berlim e Paris. Pois, com todas essas ameaças militares, Putin aparentemente quer se tornar senhor do processo que, em breve, poderá decidir sobre o futuro da Ucrânia. O líder russo perderia essa posição vantajosa se arriscasse uma guerra aberta por causa de uma faixa de terra no leste da Ucrânia. Aí, as sanções econômicas do Ocidente seriam endurecidas, e a economia da Rússia, enfraquecida.

Assim, restam à Rússia as ameaças e as alfinetadas. Em 24 de agosto, a Ucrânia celebrará 25 anos de independência da Rússia. Ao que tudo indica, os poderosos no Kremlin querem de todo jeito estragar a festa.

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