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Opinião: Por que está certo proibir a burca

Alexander Kudascheff
19 de agosto de 2016

Mesmo uma sociedade liberal e tolerante precisa mostrar limites. Não há lugar para a burca na Alemanha – assim como não há para a poligamia ou a mutilação feminina, opina o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff.

Alexander Kudascheff é editor-chefe da DW

Sim, uma proibição da burca é um gesto político simbólico. Sim, uma proibição da burca não impede nenhum atentado terrorista. Sim, num Estado liberal de Direito, sequer se ocupar com uma proibição da burca é um sinal de falta de liberalidade. Sim, não são muitas as que trajam a burca na Alemanha – então, para que tanto tumulto?

E sim, a burca incomoda muitos, mas nem tudo o que incomoda muitos precisa ser proibido. Nisso o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, tem razão.

E no entanto uma proibição da burca faz sentido – e é também politicamente útil. Ela mostra que uma sociedade aberta e tolerante não admite tudo. Ela mostra que o Estado liberal de Direito se contrapõe decididamente aos inimigos da liberalidade. Ela mostra que foi entendido corretamente o que a burca simboliza.

A burca não é um sinal de religião vivida, tampouco de religiosidade vivida, senão todas as mulheres de Marrocos até o Paquistão a usariam. Mas elas não o fazem, embora os marroquinos sejam tão religiosos quanto os líbios, egípcios, iranianos ou paquistaneses.

Não, a burca é um símbolo de um islã fundamentalista, de uma intepretação wahabita. A burca é o sinal de um islã fundamentalista – o do "Estado Islâmico" (EI), do Talibã, na Arábia Saudita e em outras partes. A burca não é um sinal de devoção popular ou de um quotidiano vivido na religião.

Certo, mas se pode objetar que, num país religiosamente indiferente, como a Alemanha, vale a liberdade de religião para todas as confissões de fé. Mas até onde vai a tolerância? Ela inclui também a mutilação genital de meninas nos países muçulmanos? O poder do homem de dispor da mulher? A ausência do direito de autodeterminação feminina? Admite-se tudo porque se quer ser religiosamente tolerante?

A burca constringe a mulher – "ela tem que fazer isso, ela quer isso". Ela priva a mulher do direito de um lugar autodeterminado e autoconfiante na sociedade. Como peça de vestuário, ela contradiz a dignidade humana e o princípio da equidade.

Por isso, a sociedade precisa se perguntar: até que ponto ela está disposta a aquiescer às formas radicais do islamismo? Até onde vai a tolerância liberal? A discussão sobre a burca é eminentemente política, e seu tema é: como lidar com os inimigos da sociedade aberta?

Para a sociedade liberal, é necessário e útil colocar uma linha divisória clara, significando: na Alemanha, a burca é proibida. Assim como a poligamia, os casamentos de crianças, a mutilação feminina em nome da religião. Para tudo isso deve-se dizer "não" politicamente. O resto cabe aos juristas.

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