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Por que o movimento "anti-islamização" tem tanto apoio?

Daniel Heinrich (av)16 de dezembro de 2014

Grupos como o Pegida são a expressão de medos difusos entre os alemães. Ao insultar os participantes ou ignorar as apreensões deles, os políticos acabam fazendo o jogo dos extremistas, opina o jornalista Daniel Heinrich.

Daniel Heinrich, da redação alemã da DWFoto: DW/M. Müller

"Pegida" (sigla em alemão do grupo "Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente") é um rótulo, nada mais, nada menos. Rótulo para um movimento que vai muito além de Pegida, Hogesa [Hooligans contra salafistas], AfD [Alternativa para a Alemanha, partido eurocético] ou dos comícios da CSU [União Social Cristã, partido conservador da Baviera] na Baixa Baviera, nos quais também se evoca o Ocidente cristão.

Pois, na verdade, tanto faz como a coisa toda se chame. O fato é que, na Alemanha de hoje, muita gente tem medo "do islã". É um sentimento de mal-estar difuso e não concreto, que se nutre de uma miscelânea de acontecimentos e temas.

É o 11 de Setembro e o onipresente medo do terrorismo islamista; são os debates sobre o véu muçulmano e as burcas; o radicalismo do "Estado Islâmico" (EI); os muçulmanos da Alemanha que viajam para o Oriente Médio como jihadistas; é o afluxo de refugiados das nações devastadas pelo EI; e o eterno debate sobre se a Turquia muçulmana pertence à União Europeia ou não.

Muitos ficam perplexos diante de tal complexidade, o que é compreensível. Pois, ao contrário dos academizados formadores de opinião na política e na mídia, a maioria das pessoas não tem uma noção diferenciada das correntes que existem dentro do islã. Para elas, muçulmanos são todos iguais.

Também – e em especial – a imprensa contribui para acirrar esses sentimentos ruins. Um exemplo atual é a tomada de reféns em Sydney. Antes mesmo que detalhes concretos fossem conhecidos, o noticiário se precipitava, reforçando os conhecidos clichês. "Jihadistas", "guerreiros de Alá", "fundamentalistas islâmicos": as palavras-chave apareceram logo, pouco diferenciadas, sempre exageradas.

Com regularidade exemplar, tudo isso se mistura aos mais recentes arroubos do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, que aconselha os turcos que vivem na Alemanha a não se tornarem "alemães demais".

Acrescentem-se a isso as notícias sobre os rapazes da cidade de Wuppertal que, com toda seriedade, patrulham o centro da cidade como "polícia da sharia" [lei religiosa islâmica] e se engajam publicamente para que se usem roupas "conformes ao islã".

Quanta besteira! No entanto, o que se pode esperar que o alemão médio vá captar disso tudo, além de "o islã é mau"? E, sejamos honestos: é simplesmente esquisito ver jovens muçulmanas pulando de "burquíni" para dentro do lago Plötzensee, em Berlim. Ou homens barbados de caftã rezando para Alá no metrô de Colônia.

O problema na Alemanha é que, na esfera pública, não há qualquer debate relevante sobre essas preocupações comuns a tantos cidadãos. E estes passam, então, a não se sentir mais levados a sério. Em vez disso, chovem as condenações prévias vindas dos políticos. Um exemplo recente são as declarações do ministro da Justiça, Heiko Maas, para quem são "uma vergonha para a Alemanha" as passeatas do Pegida em Dresden.

Esse é um sinal fatal de marginalização que, no fim das contas, só mostra como a compreensão sobre a temática é pequena. Pois uma enquete recente revela que também dentro do Partido Social-Democrata (SPD) de Maas há um grande apoio para as ideias do Pegida: 46% dos adeptos da legenda disseram concordar com as reivindicações do grupo.

Isso deveria ser motivo para reflexão. Pois o SPD não é um partido que conquiste votos com louvores ao Ocidente cristão. E a grande maioria de seus correligionários consideraria uma afronta ser alocado à direita no espectro político.

Sem dúvida, nas manifestações em Dresden também desfilam radicais de direita. Mas, atualmente, movimentos como o Pegida atraem seguidores de todas as alas políticas e camadas sociais. Todos eles integram um fenômeno de massa. Não como parte de uma massa neonazista perfeitamente coreografada, que avança inexoravelmente sobre a Alemanha. Mas sim como ponta do iceberg de uma discussão sobre as apreensões e medos de uma parcela nada desprezível do povo alemão.

São essas apreensões – já milhares de vezes partilhadas nas mesas de bar, nos churrascos de quintal e nos clubes comunitários do país – que agora se revelam a todos os olhares. E cada vez mais cidadãos notam: "Na verdade, não estou sozinho com as minhas ideias!"

Negar as preocupações deles ou insultar e difamar os manifestantes não vai mudar a opinião de ninguém no frio invernal das ruas alemãs. Pelo contrário: isso só mostra o quanto os políticos se distanciaram dos cidadãos, e com isso os atiram de vez nos braços dos recrutadores da extrema direita.

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