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Por que sempre a Saxônia?

30 de agosto de 2018

Na pergunta, que voltou a ser feita depois dos protestos de extrema direita em Chemnitz, já está claro o problema. Muitos alemães não entendem a situação dos moradores do leste, afirma o jornalista Henrik Böhme.

Manifestação de extremistas de direita em ChemnitzFoto: picture-alliance/dpa/J. Woitas

Comecemos pelo futebol. O que foi o alvoroço no país do campeão mundial destronado quando um time chamado RasenBallsport Leipzig conseguiu, em pouco anos, ascender da quinta divisão até a Bundesliga, a primeira divisão do futebol alemão!

Foi uma revolta: produto artificial! Bancado com milhões da indústria de refrigerante! Foi o que se ouviu em Munique, em Dortmund e em outros lugares. Desprezo e ódio foi o que os cidadãos de Leipzig tiveram que aturar. Eles responderam do seu jeito e se tornaram vice-campeões já na primeira temporada.

A propósito: o primeiro campeão alemão de futebol, em 1903, foi o VfB Leipzig. E o local de fundação da Federação Alemã de Futebol (DFB) é Leipzig.

Outro exemplo: uma nova ponte em Dresden, capital do estado da Saxônia. Ela desfiguraria o maravilhoso Vale do Elba – não eram os cidadãos de Dresden, mas a Unesco que reclamava. E ameaçava com a retirada do título do Patrimônio Mundial. A ponte chegou, o título foi embora. Quem se importa? Certamente não os cidadãos de Dresden.

É assim que funcionam os saxônicos.

Quem quiser entendê-los precisa conhecer pelo menos um pouco da história deles. Por exemplo conhecer Augusto, o Forte, o rei dos saxônicos no final do século 17. A autoconfiança de ser melhor que os outros, da qual os saxônicos se alimentam até hoje. Isso ajuda na hora de atravessar tempos difíceis: há 200 anos, com a derrota vergonhosa para os prussianos, e mais tarde, quando eles estavam sempre em guerras, sempre no lado errado.

Mesmo na Batalha de Leipzig, em 1813, quando o exército de Napoleão foi derrotado, os saxônicos estavam onde? Do lado de Napoleão. Uma derrota em casa, por assim dizer. E assim há outros exemplos. Essas coisas marcam.

E faz, sobretudo, uma coisa com as pessoas: une, conduz. Para mostrar aos outros. A criatividade dos saxônicos é famosa, assim como é grande sua fama de trabalhadores. O engenheiro alemão praticamente nasceu na Saxônia. A Universidade Técnica de Chemnitz desfruta até hoje de uma reputação mundial em engenharia mecânica. Não é de admirar que a Saxônia tenha sido a região industrial mais forte da Alemanha até a Segunda Guerra Mundial. A primeira empresa automobilística da Alemanha era sediada em Zwickau, quando ainda não havia Wolfsburg. Indústria têxtil, engenharia mecânica, engenharia elétrica – a Saxônia era, se diria hoje, uma localização privilegiada.

E com pessoas especiais. Porque os saxônicos são um povo especial. Na melhor das hipóteses ridicularizado pelos seus compatriotas alemães por causa do dialeto, na pior obrigado a ouvir que "quem fala desse jeito não pode ser bom da cabeça!" É esse tipo de desprezo que revolta os saxônicos. Mas eles reagem do seu jeito: não se deixam calar, dizem logo quando algo não lhes agrada. Eles gritam: "Nós somos o povo!"

Foi assim no outono de 1989, quando um muro caiu e varreu um regime. O ponto de partida da revolução pacífica não foi Berlim, Brandemburgo ou Mecklemburgo, mas a Saxônia. Em Leipzig, Plauen e Dresden, as pessoas tomaram as ruas – não em Berlim, Schwerin ou Potsdam. A unidade da Alemanha é o resultado da coragem saxônica.

Mas a Reunificação, associada a tantas esperanças, agora é também uma das causas que leva pessoas em Chemnitz e em outros lugares na Saxônia de volta às ruas.

Essas pessoas se sentem – como antigamente – tuteladas. Por alemães ocidentais, que têm o comando nos órgãos governamentais e administrações. Por um "tsunami de arrogância" que entra em seu estado desde 1989, segundo o deputado saxão da CDU Arnold Vaatz, que foi um dos homens de frente da revolução pacífica.

A economia da Saxônia, ou melhor, o que sobrou depois da Segunda Guerra Mundial e de 40 anos de economia planificada da Alemanha Oriental, foi totalmente destruída. Nos primeiros anos após a Reunificação, estima-se que 80% (!) dos empregos na indústria desapareceram. Certamente também houve eliminação da concorrência. Essas coisas marcam.

Mas também aqui: os saxônicos não desistiram. Hoje existem novamente montadoras de automóveis no estado, bilhões são investidos em fábricas de chips, há novamente engenharia mecânica, há grandes universidades e belíssimos centros históricos. A Saxônia está crescendo, a taxa de desemprego é menor do que na Renânia do Norte-Vestfália.

E mesmo assim as pessoas estão tomando as ruas? Caem na cilada dos aliciadores da extrema direita? Tem ódio de estrangeiros?

Aqui não há explicações simples. Porque nesse ponto há uma confluência de muita coisa. Começando com as reformas do mercado de trabalho alemão do ano de 2002. Naquela época houve na região da antiga Alemanha Oriental, pela primeira vez desde a Reunificação, novamente manifestações nas segundas-feiras. Já naquela época, especialmente na Saxônia, era perceptível uma perda de confiança no meio político. Pois mesmo num estado que cresce, como a Saxônia, há uma grande camada de dependentes de assistência social. Muitos deles têm o sentimento de serem para sempre alemães de segunda classe. Aposentadorias e salários no leste do país continuam abaixo dos do oeste. Muitas pessoas consideram isso desrespeitoso em consideração aos anos de trabalho – acima de tudo, muitos idosos cujas condições de vida foram completamente transformadas nas últimas três décadas.

Talvez seja também por isso que muitos saxônicos se sintam hoje mais propensos a pertencer ao Leste Europeu do que à Europa Ocidental. Isso também explica muitos outros pontos de vista sobre as coisas, como sobre a política de sanções à Rússia ou às duras críticas à política do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.

Além disso, ainda podem ser sentidos os efeitos da partida de muitos jovens talentosos e dedicados para o oeste nos anos pós-Reunificação. Os que ficaram se sentem literalmente deixados para trás, como afirma o ex-ativista dos direitos civis Frank Richter, acrescentando que eles se tornam mais receptivos aos slogans de extrema direita.

E, assim, raiva e ódio são dirigidos contra estrangeiros, embora não haja muitos em Chemnitz, em comparação com as cidades do oeste da Alemanha. Isso também tem a ver com a falta de experiências reais com estrangeiros. E quando, então, como aconteceu em 2015, vem uma onda descontrolada de imigração, aí então as pessoas ficam com medo.

Mas para se dizer de forma igualmente clara: nada, absolutamente nada disso justifica a violência contra refugiados ou pessoas de aparência estrangeira. Aliás, a grande maioria das pessoas na Saxônia também pensa assim. Mas, da mesma forma não é certo rotular os eleitores da AfD ou os manifestantes em Chemnitz desde o início de extrema direita (com exceção dos nazistas!), descrevê-los como retardados e estúpidos ou xingá-los de gentalha.

No próximo ano, a AfD pode se tornar a maior bancada no legislativo da Saxônia. Logo na Saxônia, onde estão as raízes da social-democracia alemã.

Eles são mesmo um povo especial, esses saxônicos.

Henrik Böhme é jornalista da DW.

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