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Precisamos de proteção climática, e não de turismo espacial

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Sonya Angelica Diehn
20 de julho de 2021

Iniciativas climáticas de cidadãos e de diversos governos são neutralizadas por ricaços egoístas que querem dar uma volta no espaço. Para cada voo desses, deveria ser investida igual quantia no clima, opina Sonya Diehn.

Jeff Bezos assegura que a Blue Origin visa beneficiar o planeta. Será?, questiona Sonya DiehnFoto: picture alliance/dpa/Blue Origin/AP

Eu me importo com o futuro, portanto me importo com o clima. Pertenço à vasta maioria dos cidadãos globais que, como demonstram tantas enquetes, está apreensiva com a direção para onde está indo o planeta, e entende a urgência e a natureza existencial da emergência climática iminente. As recentes inundações catastróficas na Europa Central e as temperaturas extremamente elevadas na América do Norte são apenas dois sintomas dessa ameaça.

Então, na minha família, nós fazemos algo a respeito, economizando e apertando o nosso orçamento carbônico: andamos a pé ou de bicicleta, em vez de de carro; comemos drasticamente menos carne do que a família média nos países industrializados; dispensamos aquela viagem transatlântica, mesmo querendo muito; cuidamos para não desperdiçar comida, além de compostarmos nossas sobras.

E aí, um ricaço dá uma volta pelo espaço, só para se divertir. Uma coisa incrivelmente egoísta, ou não? E que realmente desvaloriza, tanto do ponto de vista moral como material, os nossos esforços para proteger o clima.

A motivação para se agir contra a mudança climática definha quando se vê outros fazendo o que lhes dá na telha, sem atentar para as consequências. Para além dessa desmoralização, há a pegada carbônica concreta do turismo espacial.

1 hora e meia no espaço = quase 5 mil km de carro

Vejam só, eu não sou contra viagens espaciais, em princípio. Na verdade, sou até meio nerd da ficção científica, e fico super animada com as possibilidades de explorar o espaço. E sabe-se que todo turismo, mesmo na Terra, resulta em emissões de CO2. Não pretendo dizer que o turismo não deveria existir; mas o problema do turismo espacial é a proporção.

Tomemos como exemplo o voo da Virgin Galactic, de Richard Branson, em 11 de julho. A companhia afirma que as emissões carbônicas dessa volta suborbital de 160 quilômetros correspondem, mais ou menos, às de um passageiro numa viagem transatlântica de jato de ida e volta.

Segundo as informações disponíveis ao público, um voo de Londres a Nova York libera cerca de 1,24 tonelada métrica de CO2. Dito de outra maneira, uma voltinha de uma hora e meia pelo espaço foi o equivalente a dirigir 4.800 quilômetros num automóvel comum.

Se a Virgin Galactic está adicionando toda essa quilometragem de emissões carbônicas por um simples passeio para seis pessoas, isso desvaloriza os esforços de proteção ao clima – tanto do ponto de vista pessoal como da política. O problema pode se tornar especialmente agudo se o turismo espacial disparar, como tudo indica que em breve acontecerá: já foram feitas mais de 200 reservas com a Virgin Galactic, por preços que vão de 200 mil a 250 mil dólares por cabeça.

A empresa de Branson diz que atenta para a sustentabilidade ambiental – embora sem especificar o que isso envolve. Acho essa alegação muito duvidosa, sobretudo perante a pegada carbônica de seus voos.

Pelo menos bilionário Jeff Bezos, da Amazon, não tem só belas palavras para o meio ambiente: os foguetes de sua firma de viagem aeroespacial, a Blue Origin, são movidos a hidrogênio, que não emite dióxido de carbono. Mas não ignoremos o fato de que, embora possa ser produzido usando-se energia renovável, no momento o hidrogênio é gerado basicamente através da queima de – isso mesmo – combustíveis fósseis.

Uma proposta para os cowboys do espaço

É irônico: a imagem do planeta Terra visto a partir de sua órbita – uma joia de vida em meio ao vazio negro do espaço – tem a fama de inspirar o movimento ambiental contemporâneo. E agora a Blue Origin diz que sua visão é fazer o bem à Terra.

Com toda certeza foi essa a motivação para leiloar por 28 milhões de dólares uma passagem em seu voo atual a um super-rico arrematador secreto (o qual depois adiou sua participação para uma viagem futura). É para lá de irônico: eu diria que é cinismo.

Se as companhias de turismo espacial desejam realmente fazer jus às suas alegações verdes, sugiro o seguinte: para cada voo aeroespacial com turistas, que elas invistam uma quantia igual na proteção do clima. Desse modo, ricaços podem ter o barato deles, enquanto nós também tentamos consertar o clima.

O turismo espacial só deveria ser possível em troca de uma megacompensação, que garantisse um futuro nesta cintilante joia azul, verde e marrom. Afinal de contas, ela é a fonte das nossas vidas, e o único planeta capaz de nos manter.

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Sonya Diehn é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.

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