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Prisão de Assange fere a liberdade de imprensa

12 de abril de 2019

Medida é uma afronta ao Estado de Direito e um ataque frontal à liberdade dos jornalistas de publicarem verdades incômodas sobre organismos que preferem operar em segredo, opina o jornalista da DW Matthias von Hein.

Foto: picture-alliance

Aconteceu. Repetidas vezes houve especulações sobre o assunto. Agora, as autoridades equatorianas realmente abriram as portas da embaixada em Londres para a polícia britânica, e Julian Assange foi preso.

A medida é uma afronta ao Estado de Direito e um ataque frontal à liberdade de imprensa e expressão, à liberdade dos jornalistas de publicar também verdades incômodas. Ninguém pode francamente acreditar que os ingleses gastaram  milhões em anos de esquema de monitoramento da embaixada só para cumprir um mandado de prisão de 2012.

Não há absolutamente nada contra Assange, exceto a acusação de que o fundador do Wikileaks desrespeitou em 2012 a determinação de um tribunal para comparecer à polícia, no âmbito das condições de sua liberdade condicional.

Mesmo no Reino Unido, tal caso normalmente é passível de multa; no máximo, 12 meses de prisão. Considerando que a liberdade de Julian Assange já esteve massivamente reduzida por nove anos, esteve preso na embaixada do Equador em uma pequena sala sem luz solar nos últimos sete anos, e podemos chamar isso de absolutamente desproporcional.

Tudo isso só pode ser explicado dentro do quadro geral: os britânicos estão prestando assistência aos seus amigos americanos. Pois os EUA solicitaram a extradição, e Londres provavelmente atenderá. Desde o fim do ano passado, sabe-se que um tribunal nos EUA está preparando uma acusação por conspiração contra Julian Assange. Essa suspeita existe há anos.

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, qualificou em 2017 a prisão de Assange como uma "prioridade". Também em 2017, em abril, Mike Pompeo, que acabara de ser nomeado diretor da CIA, havia chamado o Wikileaks de "serviço de inteligência secreta hostil não governamental". E acrescentou a ameaça: "Isso tem que parar agora".

Na época, Pompeo podia ter esperanças e ameaçar, porque no Equador, o governo de esquerda de Rafael Correa havia chegado ao fim. Sob Correa, o pequeno Equador colou Assange sob sua proteção, contra a firme vontade dos EUA, numa postura que lembra Davi contra Golias.

O sucessor de Correa, Lenín Moreno, mudou esse rumo. Certamente não é coincidência que, logo depois, a situação já difícil na embaixada para Julian Assange tenha sido tornada ainda mais complicada: um ano atrás, todas as conexões de internet e telefone foram cortadas. Ele não tinha permissão para receber visitas, exceto de seus advogados. E recentemente sabemos que – ilegalmente – até mesmo essas visitas eram monitoradas eletronicamente.

No começo de março deste ano, ficou claro que os EUA intensificavam seus esforços para eventualmente condenar Assange: desde então, Chelsea Manning está de volta à prisão. Ela é a fonte dos vazamentos mais conhecidos – os chamados logs da Guerra do Iraque e os diários de guerra afegãos. Manning, que ficou presa por causa desses vazamentos por quase sete anos, até ser perdoada pelo então presidente Barack Obama, recusou-se a depor como testemunha contra o Wikileaks.

Claro, o Wikileaks incomoda. Porque a verdade muitas vezes incomoda. Especialmente para organizações com grande poder que gostam de realizar seus negócios sem a atenção da opinião pública. Como os militares dos EUA, a inteligência dos EUA, a diplomacia dos EUA, e os políticos dos EUA.

Mas a verdadeira democracia precisa dessas fontes de incômodo, precisa de cidadãos bem informados – especialmente sobre eventos que seus governos querem manter sob o manto do silêncio. Julian Assange nunca conspirou revelando segredos. Ele os publicou.

Assim como fazem muitas outras mídias quando realizam bem o seu trabalho. E até mesmo a mídia alemã se beneficiou enormemente do material do Wikileaks. Agora é a hora de se empenhar a favor do homem que tornou esse material disponível. Pois qualquer outro veículo de comunicação pode ser o próximo.

O ex-ministro da Defesa da Alemanha Peter Struck justificou aos alemães o posicionamento da Bundeswehr no Afeganistão com a seguinte frase: "A segurança da Alemanha também é defendida no Afeganistão". Com pelo menos a mesma propriedade pode-se hoje dizer que a liberdade de imprensa e expressão tem agora que ser defendida em Londres. Por todos nós.

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