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Opinião: Provocações de Erdogan seguem esquema eleitoreiro

26 de março de 2017

Os ministros turcos não farão mais campanha na Alemanha. Isso significa que a tática adotada já teve sucesso, continuar as provocações só prejudicaria os interesses de Ancara, opina Rainer Hermann, do jornal "FAZ".

Deutschland Türkei Oberhausen Auftritt Ministerpräsident Binali Yildirim
Foto: Reuters/W. Rattay

Berlim respira aliviado por o governo turco ter desistido de enviar seus ministros ao país em campanha eleitoral. No entanto, em princípio a suspensão só vale para a Alemanha, e Ancara ainda está devendo à União Europeia um esclarecimento oficial sobre o procedimento futuro.

Enquanto isso, Recep Tayyip Erdogan continua se comportando mais como um pregador do ódio do que como um presidente. Por exemplo, ao advertir que dentro em breve nenhum cidadão europeu estará mais seguro.

Ainda assim ocorreu uma certa distensão. Em primeira linha, provavelmente devido às análises custo-benefício do grupamento político governista, o islâmico-conservador Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).

Rainer Hermann é jornalista do jornal "Frankfurter Allgemeine Zeitung"

Nenhuma outra legenda da Turquia possui uma máquina eleitoreira tão afiada, até porque, ao contrário dos concorrentes, também lança mão do aparato estatal. Nenhuma outra tampouco realiza pesquisas de opinião tão precisas, que são aplicadas diretamente na condução da campanha eleitoral.

Se o AKP muda sua tática de campanha na Alemanha, é provavelmente devido às sondagens atuais, que o partido só divulgará mais tarde. Inicialmente as provocações calculadas parecem ter funcionado, polarizando e mobilizando os adeptos de Erdogan para um "sim" no referendo constitucional de 16 de abril.

Desse modo, cada comício cancelado, cada recusa de ingresso nos países europeus e cada rua bloqueada reverteu em votos para o presidente. Sugeriu-se que os direitos dos turcos estavam sendo cerceados, e Erdogan se arvorou em homem forte, que defende seus compatriotas desse meio ambiente hostil.

Possivelmente as acusações de nazismo de Erdogan contra a Alemanha e contra sua chanceler federal, Angela Merkel, foram o ponto em que tais provocações deixaram de preencher sua finalidade. Pois também entre os adeptos do político conservador há muitos que não compartilham essa visão.

Esses partidários do AKP perceberam que, depois do 16 de abril, eles terão que pagar a conta pela desconfiança agravada. Em consequência, deram a entender que se absteriam do voto no referendo, fortalecendo o campo do "não" à reforma que abre o caminho para o presidencialismo. E também a ala econômica do AKP exigiu a suspensão dos eventos de campanha na Alemanha.

Quem se comportou da maneira acertada nesse conflito foi a premiê Merkel, ao se recusar a adotar a linha conciliatória em relação a Erdogan. Este tentou provocá-la, Merkel deixou as tentativas ricochetearem, sem rebater no mesmo tom. O político turco acirrou suas tiradas, acabando por passar do ponto.

Contudo um recurso Merkel poderia ter utilizado: exigir de Erdogan um pedido público de desculpas pelas comparações com os nazistas, estabelecendo isso como condição para a retomada do diálogo. Mas, mesmo sem essa exigência, ela agiu com inteligência diante do presidente da Turquia.

 

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