1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Pseudorreferendos de Putin na Ucrânia são sinal de fraqueza

Konstantin Eggert
27 de setembro de 2022

Rússia está tentando repetir no leste do país invadido a farsa do plebiscito de 2014 para anexação da Crimeia. Um plano arriscado e desesperado, fadado ao fracasso, opina Konstatin Eggert.

"Referendo" em Donetsk: "Embuste de Putin parece uma tentativa pouco convicta de mostrar força"Foto: Yegor Aleyev/TASS/dpa/picture alliance

Os "referendos" organizados por Moscou nas quatro regiões parcialmente ocupadas da Ucrânia se encerram nesta terça-feira (27/09). Todo mundo, inclusive o próprio presidente russo, Vladimir Putin, sabe que esses plebiscitos são ainda mais falsos do que o espetáculo do "referendo" de março de 2014 na Crimeia, que levou à anexação da península ucraniana pela Rússia.

Os resultados são previsíveis: ao longo da semana, o Kremlin anunciará formalmente que as regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson "votaram" a favor de entrar para a Federação Russa. Putin sem dúvida lhes concederá esse desejo e nos próximos dias assinará os documentos de filiação, dando-se assim um presente de 70º aniversário, em 7 de outubro.

O mundo não reconhecerá essa farsa de votação, como se recusou a fazer com a apropriação indébita da Crimeia. Quem talvez o faça são os países clientes da Rússia, como a Eritreia e a Síria, ou entidades não reconhecidas como a Abkházia e a Ossétia do Sul (ambas usurpadas da Geórgia pela Rússia em 2008).

"Mobilização parcial" redefine o jogo

Putin pode até acreditar que seu povo ficará satisfeito em saber que ele acaba de "salvar" mais compatriotas das garras imaginárias dos imaginários "neonazistas ucranianos", tornando seu país ainda maior. Contudo, ao contrário da euforia que acompanhou a anexação de 2014, desta vez os russos vão prestar bem pouca atenção.

Primeiro, porque a Crimeia ocupava um lugar especial na imaginação russa, ferida pelo súbito colapso da União Soviética – o Leste da Ucrânia, não possui tal significado simbólico. Em segundo lugar, os "referendos" estão se realizando diante do pano de fundo do que Putin chamou oficialmente de "mobilização parcial", mas que, para todos os fins e propósitos, é um recrutamento geral na Rússia.

Centenas de milhares de famílias estão enviando seus homens despreparados para a guerra e muito provável morte. Outros milhares tentam, com urgência máxima, ajudá-los a escapar pelas fronteiras que rapidamente vão se fechando.

O Kremlin não tem outra opção, senão proclamar logo território russo as regiões ucranianas ocupadas, e então mobilizar em massa para lá os reservistas recém-convocados. Sem eles, é muito problemático manter essas áreas. Com elas anexadas, contudo, Putin pode alegar que as Forças Armadas ucranianas estão invadindo território russo.

Ele provavelmente voltará a empregar chantagem nuclear – como tem feito regularmente, desde o início desta invasão explícita da Ucrânia, em fevereiro – a fim de obter uma pausa dos combates, e talvez até concorde com alguma forma de negociação. Putin se vê pressionado a agir depressa, antes que os números de mortos e feridos, em ascensão rápida e inevitável, comecem a sacudir a sociedade russa.

Plano de um déspota desesperado

Esse plano é desesperado e arriscado. Os ucranianos não se retirarão de Donetsk e das outras três regiões. Putin ou terá que fazê-los recuar com artilharia convencional, ou cumprirá a promessa de usar armas de combate nuclear de curto alcance (às vezes equivocadamente denominadas "táticas"). Isso acarretará uma reação dos Estados Unidos, com consequências "horrendas" – como formulou recentemente o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

O plebiscito da Crimeia de 2014 foi um espetáculo montado por um vencedor cínico e inescrupuloso. Em 2022, a situação é inteiramente outra: o embuste de Putin dos "referendos" parece hoje uma tentativa pouco convicta de mostrar força e determinação onde não há nem uma nem outra. Não importa quanto vá durar a guerra na Ucrânia: amanhã essas pseudovotações estarão esquecidas.

---

Konstantin Eggert é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

Pular a seção Mais sobre este assunto