Agora não tem mais volta. O processo de saída começou. E desde já está claro que vai ter briga, principalmente, como em qualquer divórcio, quando o assunto for dinheiro. Com uma certa alegria pela desgraça alheia fala-se em Bruxelas, já há semanas, sobre a salgada conta de saída, de cerca de 60 bilhões de euros, que se pretende apresentar aos britânicos, para a qual ainda não há, porém, um cálculo apurado.
Tanto na Comissão Europeia como em algumas capitais europeias, o clima predominante parece ser de punição aos britânicos, na linha de "vocês ainda vão se dar conta do erro que cometeram".
Do ponto de vista econômico, o Brexit é um erro – isso pode praticamente ser dado como certo. Os planos ambiciosos da primeira-ministra Theresa May, de um país libertado de grilhões inoportunos e que agora pode fechar acordos comerciais com o mundo inteiro, é superestimar a si mesmo de forma grosseira. Ela, que inicialmente era contra o Brexit, tenta agora fazer o melhor possível com o resultado do referendo.
Pode durar muitos anos para que se consiga substituir de forma mais ou menos aceitável as estreitas relações econômicas com a União Europeia (UE) que já existem há muito tempo. Que desperdício de energia, tempo e dinheiro! O Reino Unido sairá perdendo, mas também a UE.
Mas o que levou ao Brexit foram sobretudo motivações políticas, e não econômicas. "Retomar o controle" é a expressão-chave. Para a maioria dos habitantes da "bolha de Bruxelas" é um procedimento totalmente inexplicável que um país, que aparentemente lucrou muito com a UE, dê as costas para ela depois de 44 anos. Duvidar de si mesmo é algo que não se vê do lado da UE.
Mas que ninguém se engane: a meta oficial de "uma união cada vez mais estreita" não vira só o estômago de muitos britânicos. Especialmente na Alemanha, a tendência é de santificar a União Europeia. Por esse credo, se o dogma "uma união cada vez mais estreita" for questionado, o resultado é o colapso total. Mas o Brexit o coloca fortemente em questão.
Justamente a Alemanha deveria evitar sentimentos de revanche. Quando se trata de livre-comércio, competitividade e controle de gastos, os alemães vão sentir falta dos britânicos, que pensam como eles. Para a Alemanha, será ainda mais difícil repelir as exigências de um grande bloco de nações do sul da UE, que desejam transformar a UE numa união de dívidas e de transferência de recursos, com a Alemanha como pagadora.
Por isso não deveria ser objetivo das negociações sobre o Brexit usar o Reino Unido para dar exemplo e intimidar outros possíveis candidatos à saída por meio de um "acordo ruim". Isso só elevaria o euroceticismo em outros países, como Suécia, Dinamarca e Holanda. O objetivo deveria ser manter os britânicos o mais perto possível da União Europeia e fazer uma transição da forma mais suave possível.
Isso seria uma abordagem pragmática, com a qual todos lucrariam, em vez de um "tudo ou nada" equivocado. A UE não manterá seus membros com punições aos desertores, mas sendo atrativa.