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Putin está provocando a Ucrânia

Reinhard Veser
28 de abril de 2019

Difícil não ver na oferta de passaportes russos aos ucranianos uma forma especial de anexação por parte do Kremlin. E mais uma afronta ao presidente eleito, Volodimir Zelenski, opina Reinhard Veser, do "FAZ".

Passaporte russo é passado da mão de uma mulher para a outra
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/K. Kukhmar

Quem ainda queira acreditar que sejam possíveis passos construtivos no sentido da solução do conflito na Ucrânia sob a atual liderança russa, precisará redobrar seus esforços para negar a realidade, depois da última semana.

Três dias após a eleição presidencial ucraniana, o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, deixou bem claro que não deseja uma distensão entre Moscou e Kiev. Enfim, não há como interpretar de outra forma seu decreto, divulgado na quarta-feira (24/04), facilitando o acesso ao passaporte russo para os habitantes das assim chamadas "repúblicas populares" de Donetsk e Lugansk.

O decreto de Putin é uma provocação. Pois visa separar do Estado ucraniano, de forma ainda mais nítida e duradoura, as regiões do leste do país que já estão mesmo ocupadas de fato pela Rússia. Trata-se de uma forma especial de anexação: embora oficialmente o Kremlin ainda reconheça o pertencimento dos territórios à Ucrânia, os cidadãos que lá vivem ficam filiados à Rússia.

Desse modo fica ainda mais debilitado o acordo para solução do conflito, firmado em fevereiro de 2015 em Minsk, com a mediação da Alemanha e da França. O Kremlin nunca fez mesmo grandes esforços para cuja concretização, mas ainda assim, seria importante pelo menos uma manutenção formal do pacto, que se contrapõe a uma nova escalada de violência, além de oferecer um quadro básico para um mínimo de cooperação humanitária na região de guerra.

Na Ucrânia, o decreto de Putin é interpretado como uma preparação pseudolegal para uma mobilização explícita – e não disfarçada, como até então – das Forças Armadas russas contra os ucranianos. Afinal, não seria a primeira vez que Moscou toma a proteção dos cidadãos russos como pretexto para uma ofensiva militar contra um país vizinho.

Foi isso o que ocorreu na Geórgia em 2008, depois de, nos anos anteriores, terem sido distribuídos passaportes russos em massa aos habitantes dos territórios rebeldes da Abkházia e Ossétia do Sul. Mesmo que o Kremlin não tenha esse tipo de plano no momento, o mero fato de essa possibilidade estar agora no ar já eleva as tensões na região de conflito.

O decreto dos passaportes não é a primeira afronta de Moscou ao recém-eleito futuro presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Pouco antes do segundo turno das eleições, quando sua vitória já era certa, o Kremlin ordenou uma proibição das exportações de petróleo russo e derivados para a Ucrânia, a qual será forçada a encontrar novas fornecedoras alternativas para mais de 30% de sua demanda.

Será que o Kremlin conta precipitar o país no caos quando o inexperiente novo dirigente assumir? Seja como for, o comportamento de Moscou não é um bom presságio para o futuro próximo. Por isso é mais importante ainda que haja uma transferência de poder regulamentar na Ucrânia. E que o Ocidente reforce seu apoio ao país, justamente nestes tempos críticos.

Reinhard Veser cobre a política do Leste Europeu para o diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung  (FAZ).

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