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Putin satisfeito, Ocidente em polvorosa no "Festival Rússia"

9 de janeiro de 2022

Série de conferências sobre a segurança na Europa é palco perfeito para as fantasias de poder do líder russo. Enquanto isso, do ponto de vista estratégico, o Ocidente está basicamente imobilizado, opina Bernd Riegert.

O presidente Valdimir Putin deve estar satisfeito com o "Festival Rússia" que se anuncia: está programada uma densa sequência de conferências e reuniões em Genebra, Bruxelas, Viena e Brest, com a finalidade de mantê-lo de bom humor – e evitar o temido avanço de tropas regulares russas sobre a Ucrânia.

O "festival" já começou em dezembro de 2021, com dois telefonemas entre os chefes de Estado da Rússia e dos Estados Unidos. Seguiu-se, na última sexta-feira, uma conferência extraordinária, em vídeo, dos ministros do Exterior da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), na qual "o Ocidente" articulou sua posição.

O presidente americano, Joe Biden, prometera manter a coordenação estreita com os europeus, e manteve sua promessa. A função continua nesta segunda-feira (10/01), com "conversas estratégicas" diretas entre os EUA e a Rússia, em Genebra.

Na quarta-feira, segue-se uma sessão do Conselho da Otan para a Rússia, em Bruxelas – um grêmio de consultação enferrujado de longa data. Paralelamente, reúnem-se os líderes militares da Aliança Atlântica para deliberar sobre reforços às tropas no Mar Negro ou na fronteira oriental da organização. No dia seguinte, há um encontro da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), da qual EUA e Rússia são membros.

Também a União Europeia quer marcar sua posição. Seus ministros da Defesa e do Exterior se reúnem de quarta a sexta-feira na cidade francesa de Brest. Como em todas as demais conferências, o tema aqui são a reação às exigências russas de garantias de segurança e a uma eventual escalada por Putin na Ucrânia.

Choques de interesses do Ocidente: trunfo para Putin

Em resumo: o chefe do Kremlin conseguiu deixar "o Ocidente" em polvorosa e expor publicamente as diferenças de opinião no campo adversário. Pois, no tocante à Rússia, há discrepâncias gritantes de atitude, dependendo dos interesses em jogo.

Até hoje, os europeus não conseguiram decidir exatamente quais serão as severas sanções com que pretendem ameaçar Moscou. A única coisa que resolveram até o momento é que haverá "um preço", no caso de novas agressões por parte dos russos.

Para completar, o encarregado de política externa da UE, Josep Borrell, prestou um desserviço ao bloco que representa ao se queixar de não ter sido consultado em relação à segurança na Europa e na Ucrânia.

No setor que realmente poderia doer para a Rússia, que é o fornecimento de energia, a UE evita tocar. Compreensivelmente, pois, sem o gás e o petróleo da potência eurasiana, numerosos países da Europa, inclusive a Alemanha, estariam em sérias dificuldades.

O chefe de Estado russo não tem por que temer resoluções graves nesta semana de "festival". Provavelmente se pronunciarão as mesmas advertências que desde 2014, quando Moscou fez marcharem suas tropas até a fronteira ucraniana.

Quem conversa, não atira

Portanto, nem os EUA nem os demais Estados da Otan mobilizarão suas próprias forças militares em respaldo aos ucranianos. Por outro lado, está descartado a Aliança Atlântica atender à exigência russa de que ela desista de uma ampliação para o Leste, integrando a Ucrânia ou a Geórgia.

"O Ocidente" não cederá à chantagem do Kremlin, e Putin sabe disso. No entanto, Biden já lhe assegurou que, no curto prazo, uma filiação de Kiev ou de Tiblíssi não consta da pauta da Otan. Esse estado de incerteza perdura desde a cúpula da organização de 2008, em Bucareste.

Assim, o polo ocidental seguirá tentando manobrar, de algum jeito, e apostando na diplomacia, sem provocar ações militares da Rússia. Por sua vez, Vladimir Putin manterá a tensão com provocações direcionadas, alimentando os conflitos em Belarus, Ucrânia, Geórgia, Moldávia e Armênia, a fim de impedir futuros passos desses países em direção ao oeste.

O chefe do Kremlin considera seus adversários militarmente indecisos, incapazes sequer de organizar a própria retirada do Afeganistão. No momento, não ampliará a guerra com a Ucrânia, iniciada por ele já em 2014, com a anexação da península da Crimeia. Pois, em princípio, o líder político notoriamente imprevisível já conseguiu o que queria.

Os EUA, a Otan e a UE seguirão dispostos a conversar, confiando que, do ponto de vista da política interna, Putin não pode se permitir uma guerra a pleno vapor, estando, no momento, mais ocupado com a consolidação de sua influência no Cazaquistão.

Este seguramente não será o último "Festival Rússia". Mas, afinal, toda a função não é totalmente em vão: pois, enquanto se conversa, pelo menos não se dispara.

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Bernd Riegert é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

 

Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.
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