Comissão Europeia processa o autoproclamado aluno modelo da proteção climática. É hora de alemães equipararem pretensão com realidade, afirma o jornalista Jens Thurau.
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É espantoso: ainda há alguns dias, o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha anunciava que o país continuava sendo visto como referência em conferências climáticas internacionais, admirado por sua transição energética e pelo abandono da energia nuclear. Os demais países receberiam a notícia de que os alemães estavam tendo dificuldades para cumprir suas próprias e ambiciosas metas climáticas de forma "surpreendentemente complacente". Mas vai ser sempre assim?
Agora, a Comissão Europeia processou a Alemanha (e mais cinco países da União Europeia) por causa do elevado número de poluentes no ar das cidades. Em primeiro lugar, isso é constrangedor, pois estão sendo superados limites com os quais o governo concordara. Em segundo lugar, é uma péssima notícia para os milhares de proprietários de carros a diesel na Alemanha. Mas, em última instância, trata-se sobretudo do fracasso de uma política que gostava de trombetear metas ambiciosas, mas falhou na hora de criar as condições para que elas fossem cumpridas.
Nos últimos anos, a Alemanha reduziu muito as emissões de gases do efeito estufa, bem mais do que outros países industrializados. Mas aí a proteção climática perdeu força, e isso também porque os alemães, afinal, gostam de andar em automóveis caros e rápidos e de preferência fabricados por eles mesmos. E os fabricantes alemães há muitos anos apostam no motor a diesel, que, na comparação com outros, é melhor para a proteção do clima. Só que, com isso, eles ignoraram os alertas de especialistas para outros riscos ambientais, como, por exemplo, a elevação da concentração de óxido de nitrogênio no ar das cidades. Quando os riscos se tornaram claros até para os fabricantes, estes optaram pela fraude.
É verdade que o governo reagiu e passou a incentivar o uso de ônibus elétricos, por exemplo, mas o efeito de medidas como essa só aparece no longo prazo. De qualquer forma, não tão rápido como a Comissão Europeia gostaria. E sobretudo: diante da única medida realmente enérgica e de efeito rápido – a cara conversão dos motores a diesel – o atual governo recua. Os custos teriam que ser assumidos pelos fabricantes ou pelos proprietários – que também são eleitores.
Mas talvez o processo iniciado por Bruxelas ajude a grande coalizão de governo em Berlim a encarar para valer os dois grandes desafios da política climática e ambiental: diminuir as emissões de poluentes nas cidades para evitar as proibições de circulação e acabar com a produção de energia elétrica com carvão para alcançar as metas climáticas. No primeiro caso, a pressão vem agora da União Europeia. No segundo, ela poderá surgir em breve no cenário internacional. Ainda a tempo da próxima conferência do clima da ONU, em Katowice, em dezembro, uma comissão criada especialmente para isso pelo governo deve preparar o terreno para o fim do uso do carvão. Um plano ambicioso, pois a comissão ainda está sendo formada.
Na Alemanha, a transição energética é visível por todos os lados, por exemplo nas turbinas eólicas. Os alemães gostam de andar de bicicleta e de trem, eles também se dedicam com afinco a separar o lixo. Mas, por muito tempo, eles acharam que isso bastava. Agora está claro: não basta. Portanto, é hora de fazer o dever de casa. Enquanto ele não estiver concluído, são outros países que têm o direito de serem festejados nas conferências do clima: por exemplo os países pobres do hemisfério sul, afetados pela mudança climática, e que, apesar de suas condições desfavoráveis, não desistiram de lutar contra as emissões de gases do efeito estufa.
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Dez ações contra as mudanças climáticas
Três quartos dos gases estufa são produzidos pela combustão de carvão, petróleo e gás natural; o resto, pela agricultura e desmatamento. Como se podem evitar gases poluentes? Veja dez dicas que qualquer um pode seguir.
Foto: picture-alliance/dpa
Usar menos carvão, petróleo e gás
A maioria dos gases estufa provém das usinas de energia, indústria e transportes. O aquecimento de edifícios é responsável por 6% das emissões globais de gases poluentes. Quem utiliza a energia de forma eficiente e economiza carvão, petróleo e gás também protege o clima.
Foto: picture-alliance/dpa
Produzir a própria energia limpa
Hoje, energia não só vem de usinas termelétricas a carvão, óleo combustível e gás natural. Há alternativas, que atualmente são até mesmo mais econômicas. É possível produzir a própria energia e, muitas vezes, mais do que se consome. Os telhados oferecem bastante espaço para painéis solares, uma tecnologia que já está estabelecida.
Foto: Mobisol
Apoiar boas ideias
Cada vez mais municípios, empresas e cooperativas investem em fontes energéticas renováveis e vendem energia limpa. Este parque solar está situado em Saerbeck, município alemão de 7,2 mil habitantes que produz mais energia do que consome. Na foto, a visita de uma delegação americana à cidade.
Foto: Gemeinde Saerbeck/Ulrich Gunka
Não apoiar empresas poluentes
Um número cada vez maior de cidadãos, companhias de seguro, universidades e cidades evita aplicar seu dinheiro em companhias de combustíveis fósseis. Na Alemanha, Münster é a primeira cidade a aderir ao chamado movimento de desinvestimento. Em nível mundial, essa iniciativa abrange dezenas de cidades. Esse movimento global é dinâmico – todos podem participar.
Foto: 350.org/Linda Choritz
Andar de bicicleta, ônibus e trem
Bicicletas, ônibus e trem economizam bastante CO2. Em comparação com o carro, um ônibus é cinco vezes mais ecológico, e um trem elétrico, até 15 vezes mais. Em Amsterdã, a maior parte da população usa a bicicleta. Por meio de largas ciclovias, a prefeitura da cidade garante o bom funcionamento desse sistema.
Foto: DW/G. Rueter
Melhor não voar
Viajar de avião é extremamente prejudicial ao clima. Os fatos demonstram o dilema: para atender às metas climáticas, cada habitante do planeta deveria produzir, em média, no máximo 5,9 toneladas de CO2 anualmente. No entanto, uma viagem de ida e volta entre Berlim e Nova York ocasiona, por passageiro, já 6,5 toneladas de CO2.
Foto: Getty Images/AFP/P. Huguen
Comer menos carne
Para o clima, também a agricultura é um problema. No plantio do arroz ou nos estômagos de bois, vacas, cabras e ovelhas é produzido o gás metano, que é muito prejudicial ao clima. A criação de gado e o aumento mundial de consumo de carne são críticos também devido à crescente demanda de soja para ração animal. Esse cultivo ocasiona o desmatamento de florestas tropicais.
Foto: Getty Images/J. Sullivan
Comprar alimentos orgânicos
O óxido nitroso é particularmente prejudicial ao clima. Sua contribuição para o efeito estufa global gira em torno de 6%. Ele é produzido em usinas de energia e motores, mas principalmente também através do uso de fertilizantes artificiais no agronegócio. Esse tipo de fertilizante é proibido na agricultura ecológica e, por isso, emite-se menos óxido nitroso, o que ajuda a proteger o clima.
Foto: imago/R. Lueger
Sustentabilidade na construção e no consumo
Na produção de aço e cimento emite-se muito CO2, em contrapartida, ele é retirado da atmosfera no processo de crescimento das plantas. A escolha consciente de materiais de construção ajuda o clima. O mesmo vale para o consumo em geral. Para uma massagem, não se precisa de combustível fóssil, mas para copos plásticos, que todo dia acabam no lixo, necessita-se uma grande quantidade dele.
Foto: Oliver Ristau
Assumir responsabilidades
Como evitar gases estufa, para que, em todo mundo, as crianças e os filhos que elas virão a ter possam viver bem sem uma catástrofe do clima? Esses estudantes estão fascinados com a energia mais limpa e veem uma chance para o seu futuro. Todos podem ajudar para que isso possa acontecer.