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Esporte

Racismo ainda ofusca o futebol

Joscha Weber
21 de julho de 2018

Na hora da vitória, jogadores brancos e negros são festejados da mesma forma. No fracasso, vêm à tona os velhos reflexos do preconceito, opina o jornalista esportivo Joscha Weber.

Multidão em Paris comemora conquista do bicampeonato mundial pela seleção francesaFoto: Reuters/J. P. Pleissier

Domingo à noite, 18h54, Campo de Marte, em Paris. A gigantesca tela ao pé da Torre Eiffel exibe a transmissão da Copa do Mundo, o grande momento chegou. O árbitro leva seu apito à boca, soa o apito final e, em Paris um vulcão entra em erupção. É uma erupção de alegria. A França é campeã mundial, as pessoas gritam, pulam, choram e se abraçam. Neste segundo, toda a força emocional do futebol se manifesta.

"Este é um momento de entusiasmo, de otimismo, de entusiasmo de todo um povo", exulta Laura. Ela é parisiense, vestindo hoje, naturalmente, sua camisa azul da seleção nacional. Seus olhos ainda estão molhados com as lágrimas de alegria que rolaram sobre suas bochechas enquanto ela extravasava seus sentimentos no microfone da DW. "Que loucura! A seleção deu o exemplo, foi uma unidade e mostrou coesão real, é um modelo para todo o país."

Apenas alguns momentos se passaram desde o apito final, e aí está novamente a analogia entre a seleção nacional e a nação. A equipe francesa, um conjunto multi-étnico bem harmonizado, como símbolo de uma nação igualmente colorida e bem-sucedida? Como em 1998, quando a França se tornou campeã mundial com uma equipe mista de jogadores brancos e negros, é feita essa comparação. Assim como 20 anos atrás, dessa vez também muito rapidamente fica explícito: a comparação é capenga.

Pois já na noite da final, a frustração social explode em Paris e outras cidades da França. Vândalos, muitos da periferia e muitos com origem estrangeira, destroem lojas, incendeiam carros. Em meio à hora de júbilo, o país é lembrado de seus grandes problemas sociais. Exatamente, que os jovens com pele negra ou com o nome de origem árabe têm muito menos chances de progresso fora dos campos. A seleção campeão mundial o mais belo símbolo de uma possível França: unida, igualitária e bem-sucedida.

O exemplo da Alemanha mostra o que acontece quando o sucesso não vem. Após a estrondosa eliminação da equipe nacional alemã na rodada preliminar se seguiu um debate louco sobre Mesut Özil: o turco é o culpado. O meia é declarado bode expiatório tanto na mídia social como também por integrantes da Federação Alemã de Futebol, apesar de alguns colegas da equipe terem apresentado desempenhos significativamente piores. É claro que Özil não fez favor algum a si mesmo com a detestável reunião com o presidente turco Erdogan e seu teimoso silêncio posterior. Mas os preconceituosos e maciços insultos contra ele, que é filho de pais turcos e nascido em Gelsenkirchen, são um tapa na cara de uma Alemanha supostamente liberal. Eles mostram que o racismo infelizmente ainda não foi banido – nem da sociedade, nem do futebol.

Suásticas na torcida organizada, bananas jogadas sobre jogadores de futebol negros, cantos preconceituosos da arquibancada, jogadores brancos recusando apertos de mão a adversários de cor – o racismo continua ocorrendo no futebol internacional, desafiando todos os esforços e campanhas publicitárias. "O problema ainda está lá, temos que fazer mais", disse Gerald Asamoah no Global Media Forum 2018. Como integrante da seleção e profissional de clubes, entre eles o Schalke 04, ele teve que ouvir torcedores gritando como macacos e cantos racistas, hoje ele luta contra a discriminação no futebol. "Não há nada pior do que ser marginalizado, a dor de não fazer parte do grupo. Eu tenho três filhos e é por isso que faço tudo para garantir que eles não tenham que passar pela mesma coisa que eu."

O problema é que só alguns lutam com tanta convicção pelo óbvio direito de igualdade de condições no futebol. E, assim, a Copa do Mundo na Rússia novamente experimentou casos de discriminação: o brasileiro de pele escura Fernandinho recebeu ameaça de morte e ofensas racistas por seu gol contra na partida das quartas-de-final contra a Bélgica. E o sueco Jimmy Durmaz foi ofendido como "terrorista suicida” nas mídias sociais após sua falta sobre o alemão Timo Werner (que resultou numa cobrança em que Toni Kroos marcou o gol da vitória alemã) e também ameaçado de morte.

Isso deixa uma impressão: quando uma equipe etnicamente mesclada é bem-sucedida e consegue ser campeã, jogadores negros, como Kylian Mbappé e Paul Pogba, são também estrelas cujas camisas se tornam sucessos de venda. Mas se uma equipe fracassa e é eliminada, velhos reflexos racistas vêm à tona entre alguns torcedores: jogadores que vêm de famílias de imigrantes, se tornam mais rapidamente alvo de críticas e até mesmo de ameaças de morte. E isso ocorre em 2018. É um escândalo muito maior do que a eliminação prematura de um campeão mundial.

Joscha Weber é editor-chefe da Editoria de Esportes online da DW

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