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Reabertura gradual na Alemanha é ato de equilíbrio

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Jens Thurau
16 de abril de 2020

Medidas drásticas para enfrentar a pandemia de covid-19 foram amplamente apoiadas pela população alemã. Elas serão agora relaxadas, o que pode colocar em risco o consenso alcançado, opina Jens Thurau.

Restrições de contato permanecerão válidas na Alemanha até 3 de maio, anunciou MerkelFoto: Reuters/B. von Jutrczenka

Foi um pequeno milagre. A sociedade alemã ‒ até há poucas semanas polarizada, dividida e absolutamente irritada diante de quase qualquer tema ‒ chegou a um consenso: a dramática restrição de contatos e o fechamento de lojas, creches e escolas são as medidas corretas para combater a pandemia. A Alemanha ficou em casa.

Agora o país ousa sair do distanciamento social ‒ pelo menos aqui e ali. O governo não quer mais ver a Alemanha quase completamente parada. Por outro lado, o risco do coronavírus permanece alto, apesar do achatamento da curva de infecção. Assim, por enquanto, as restrições ao contato social permanecerão válidas pelo menos até 3 de maio. Trata-se de um ato de equilíbrio que talvez seja inevitável. Mas é exatamente o apoio conferido ao governo na crise do coronavírus que está sendo posto à prova.

Por mais duas semanas e meia, só poderemos ver nossas famílias, teremos que ficar em casa e reduzir a vida pública. Ao mesmo tempo, pequenas lojas, como livrarias e concessionárias de automóveis, abrirão suas portas. Jovens voltarão às aulas, pelo menos aqueles que estão fazendo as provas finais do ensino médio. As escolas serão reabertas no dia 4 de maio. Mas ainda não se sabe exatamente quem e quando poderá voltar às aulas.

Em princípio, restaurantes e hotéis permanecem fechados. Não há obrigação de usar uma máscara de proteção, mas o seu uso é recomendável. Isso se deve, provavelmente, ao fato de não haver máscaras suficientes para mais de 80 milhões de habitantes.

Ficou demonstrado que foi relativamente fácil fazer com que as pessoas aceitassem reduzir suas liberdades individuais. Havia e há boas razões para tal, e uma esmagadora maioria dos alemães entendeu isso. O governo injetou bilhões para a população para aliviar as dificuldades mais graves, o que aconteceu surpreendentemente de forma pouco burocrática. Mas agora a situação está ficando complicada.

Para não ser mal interpretado: os políticos não têm alternativa a não ser embarcar nesse ato de equilíbrio. Obviamente, a proteção da vida e da saúde da população está no centro de todas as ações, mas a política sempre deve levar em consideração todos os aspectos, inclusive os econômicos. E já existem vencedores e perdedores: pequenos lojistas respiram aliviados, idosos permanecem isolados. Alguns alunos podem entrar novamente em contato com os colegas; outros, ainda não.

Mais do que nunca, o governo alemão, governadores, prefeitos e líderes distritais têm que explicar repetidamente por que as medidas estão sendo relaxadas agora. E, se possível, falar com uma só voz. Isso nem sempre foi o caso nos últimos dias. Um governador era a favor de uma ampla flexibilização, enquanto outro era contra.

Nas últimas semanas, o federalismo tem sido uma bênção para a Alemanha. Os virologistas também o elogiaram, pois assim o país pôde reagir com flexibilidade à pandemia. No entanto, isso não deve levar agora a uma corrida entre os governadores de quem pode proporcionar a reabertura mais rápida possível aos cidadãos de seu estado. Por enquanto, isso foi evitado pelas decisões anunciadas nesta quarta-feira (15/04).

Com esse primeiro tênue relaxamento das restrições, é bem possível que a Alemanha só agora esteja percebendo o quanto ela já mudou por meio da pandemia. Nada está superado, não há nenhuma luz no fim do túnel. A covid-19 nos manterá ocupados por um longo tempo, e tomara que ela não faça que nos voltemos uns contra os outros: pais contra filhos, estudantes contra professores, donos de livrarias contra proprietários de restaurantes. Grupos de risco contra aqueles que não o são. Com o peso dessas decisões sobre eles, os governantes não são invejados neste momento.

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