No novo ano, a Rússia vai atrair a atenção com a Copa do Mundo e com votações que prometem mais uma vitória fácil para o chefe do Kremlin, opina o correspondente da DW em Moscou, Miodrag Soric.
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Eleições podem ser interessantes, sobretudo se não é possível se prever o vencedor desde o início. Nesse sentido, as eleições presidenciais na Rússia provavelmente serão tão emocionantes quanto a leitura da lista telefônica de Tcheliabinsk.
Para todos, incluindo os candidatos, uma coisa é clara: o vencedor será Vladimir Putin. Afinal, o Kremlin controla a televisão, tem mais dinheiro e poder sobre o aparelho governamental, incluindo as forças de segurança. Se houvesse um candidato capaz de ameaçar seriamente Putin, ele provavelmente não poderia competir.
Assim, o Kremlin pode estar satisfeito com o que seguirá nas próximas semanas e meses: uma disputa eleitoral que não é disputa alguma. Uma competição em que o presidente continua a posar de estadista, sem ter que se desgastar com a concorrência.
Mas o governo quer mais do que apenas a vitória: ele quer uma vitória esmagadora, com alta participação eleitoral, algo em torno de 70%, ou ainda mais. Será difícil conseguir isso. Pois o "Ivan Ivanovitch" se pergunta, com razão: por que se arrastar pela neve até a urna, se Vladimir Putin vai continuar presidente de qualquer forma? Se, de fato, isso não é uma eleição, o cidadão comum russo prefere ficar em casa, segundo o princípio "Eles que mandem os observadores eleitorais de Belarus contarem o número de votos que eles quiserem."
A rigor, Vladimir Putin não precisaria desse espetáculo. Pois até as pesquisas de opinião independentes comprovam: ele é o claro favorito. Mesmo numa competição de verdade e justa, o candidato de 65 anos venceria. Só ele sabe por que se expõe ao risco. Talvez tenha medo de manifestações, talvez acredite que muitos de seus compatriotas possam ter esquecido da tão popular anexação da Crimeia ou possam culpá-lo pelo declínio do padrão de vida.
É pouco provável que as relações de poder na Rússia se alterem em 2018. Mas o que será que acontece depois das eleições de 18 de março? Será que o presidente começa a preparar o país para a era pós-Putin, com nomeações direcionadas?
Os astrólogos do Kremlin especulam sobre quem poderá ser o primeiro-ministro. O atual premiê, Dmitri Medvedev, parece enfraquecido. As acusações de que teria embolsado milhões se recusam a calar. Será que Putin designa um economista liberal ou um homem do aparato de segurança como seu vice? De uma forma ou de outra, isso poderia definir o futuro curso da Rússia.
E isso se aplica também à política externa e de segurança. Já que os Estados Unidos vão se retirando de diversas regiões, enquanto poder regulador, a Rússia e a China tentam preencher esse vácuo de poder. No Oriente Médio, onde até há poucos anos a Rússia não era um fator real, o presidente Putin tem se envolvido ativamente. Seu homem na Síria, o presidente Bashar al-Assad, permanece no cargo. Pelo menos lá, a Rússia prevaleceu.
Em contraste, deve haver pouco movimento na crise da Ucrânia em 2018. Moscou não vai desistir da Crimeia no novo ano, nem deixar de prestar apoio militar à população de língua russa no leste do país. Como resultado, as sanções ocidentais continuam em vigor.
Ambos os lados estão aguardando. O processo de Minsk permanece congelado. Mesmo maciços envios de armas americanas dificilmente mudarão as relações de poder na Ucrânia. A Rússia torce para que diminua gradualmente o interesse de Washington e Bruxelas por essa região.
Em meados do ano, Putin desfrutará da atenção mundial durante a Copa do Mundo. Mesmo que os craques de Moscou não cheguem muito longe, o país vai fazer de tudo para ser um bom anfitrião. O único perigo são ataques terroristas islâmicos por repatriados de língua russa provenientes da Síria ou do Iraque. Ataques suicidas em locais públicos são difíceis de prevenir. Mas os serviços americanos e russos trabalham juntos na luta contra o terrorismo. Pelo menos isso.
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Crimeia três anos após a anexação russa
Em março de 2014, a Rússia anexou a Crimeia. Três anos depois, como está a península? O que mudou na vida das pessoas? E Putin cumpriu suas promessas?
Foto: DW/R. Richter
A ocupação da Crimeia
O presidente russo, Vladimir Putin, é comemorado como herói, e bandeiras russas substituíram as ucranianas. A transformação começou em fevereiro de 2014, quando pessoas de uniforme, mas sem insígnias, ocuparam os prédios do governo e do Parlamento em Simferopol, capital da República Autônoma da Crimeia, parte da Ucrânia. Mais tarde, também os quartéis ucranianos seriam ocupados.
Foto: DW/I. Worobjow
Referendo sobre a anexação
Apesar dos protestos e, contornando a Constituição da Ucrânia, em 16 de março de 2014, foi realizado um referendo sobre o estatuto da Crimeia. A entrega da Crimeia à Ucrânia pelo governo russo em 1954 não foi reconhecida, e decidiu-se pela anexação da península à Rússia.
Foto: Reuters
Tártaros da Crimeia
Quem rejeita a anexação pela Rússia, sofre perseguição. Isso acontece também com os líderes do Mejlis, o Congresso do Povo Tártaro da Crimea, que em 2016 foi considerado organização extremista. Buscas e detenções voltam a ser frequentes, tal qual em 1944, quando os tártaros da Crimeia foram deportados como "inimigos do povo" pelos soviéticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Só programas russos
As transmissões das emissoras de televisão ucranianas foram interrompidas na Crimeia no começo de 2014. A população só tem acesso a programas russos. O ATR, canal independente dos tártaros da Crimeia, que defende a integridade territorial da Ucrânia, agora transmite a partir de Kiev. Muitos outros meios de comunicação também foram proibidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Zemlianichenko
Difícil acesso
A lei ucraniana proíbe estrangeiros de entrar na Crimeia sem a permissão das autoridades de Kiev e que não seja pela área continental da Ucrânia. Ao infrator fica proibido viajar pelas demais partes da Ucrânia. Para chegar da Ucrânia à Crimeia, é preciso passar por postos de controle na fronteira administrativa, seja a pé ou de carro.
Foto: DW/L. Grishko
Sanções após a anexação
A União Europeia (UE) e os Estados Unidos não reconhecem a anexação. Eles até aconselham seus cidadãos a não comprar imóveis ou fazer negócios na Crimeia. Empresas da península não podem vender produtos à UE, nem aos EUA. Também foram impostas sanções a pessoas, empresas e organizações.
Foto: picture-alliance/Sputnik/A. Polegenko
Esperando o cumprimento de promessas
Quem votou a favor da anexação no referendo, esperava que Putin cumprisse suas promessas: uma ponte ligando a Crimeia à Rússia, um gasoduto e usinas de energia. Também problemas sociais seriam resolvidos. Os salários não acompanham a inflação. Mas relatos sobre o descontentamento e protestos localizados são divulgados apenas nas redes sociais e meios de comunicação independentes.
Foto: DW/R. Richter
Empreiteira de amigo de Putin
A construção de uma ponte no Estreito de Kertch até a Rússia está em pleno andamento. A obra, no valor de 3,7 bilhões de euros, está nas mãos do oligarca russo Arkady Rotenberg, amigo de Putin. Até o final de 2019, a ponte deverá estar pronta. Ela terá quatro pistas rodoviárias e duas faixas ferroviárias.
Foto: picture-alliance/Tass/V. Timkiv
Pequenos negócios
Empresas de pequeno porte da Crimeia sofrem com a redistribuição de propriedades em favor de empresários russos. A emissora Radio Liberty informou que o número de pequenas empresas na Crimeia diminuiu de 15 mil (2014) para 1 mil (2016). Também os proprietários de imóveis no litoral enfrentam problemas. Tribunais podem anular documentos emitidos antes da anexação.
Foto: DW/A. Karpenko
Grandes perdas no turismo
Na alta temporada, é tempo de praia na Crimeia. Mas o fluxo de turistas diminuiu quase 30% nos últimos três anos. As rotas ferroviárias estão interrompidas e os voos são caros. Devido às sanções impostas pela UE, navios de cruzeiro não atracam mais na Crimeia.
Foto: DW/A. Karpenko
Tesouros históricos
As joias arqueológicas e as armas dos citas, antigo povo de pastores nômades que povoaram a região na Antiguidade Clássica, não poderão mais retornar à Crimeia. No final de 2016, um tribunal holandês decidiu que a rara coleção de 550 artefatos de museus da Crimeia deveria ser dada a Kiev. Os tesouros são parte de uma mostra que estava na Europa Ocidental quando ocorreu a anexação da Crimeia.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Maat
Quem ganhou com a anexação
Desde a anexação, os moradores da Crimeia só podem comprar cartões para telefone, por exemplo, se portarem um passaporte russo. Quem ganhou com a anexação foram aposentados com passaporte russo. As aposentadorias foram equiparadas às vigentes na Rússia, e a idade da aposentadoria para mulheres baixou de 60 para 55 anos.