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Opinião: Referendo britânico, uma insensatez política

Alexander Kudascheff
22 de junho de 2016

Seja qual for o resultado da votação sobre o Reino Unido na União Europeia, realizá-lo foi leviano. E depois dele a comunidade precisará urgentemente de uma reforma, opina o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff.

Alexander Kudascheff, editor-chefe da DWFoto: DW/M. Müller

A Europa inteira está em suspense e torce para que os britânicos permaneçam na União Europeia, para que, no fim das contas, o referendo sobre o Brexit tenha um final feliz.

A Europa inteira? Claro que não: os opositores, os céticos, os inimigos do clube europeu, eles torcem por um "leave", o voto pela saída. Pois se os britânicos se separarem da UE, isso seria naturalmente um impulso para os governos eurocéticos e, sobretudo, para as legendas anti-UE, como a Frente Nacional, na França, ou o Partido para a Liberdade, de Geert Wilders, na Holanda.

Neste contexto, só é preciso recordar: nesses países, ambos membros fundadores da Comunidade Econômica Europeia, o primeiro esboço de uma Constituição para a UE foi rejeitado em consulta popular. E com grande probabilidade os dois partidos tentariam igualmente forçar a realização de votos populares sobre a filiação à União – com resultados mais do que incertos.

Portanto: quase toda a Europa torce. Ou melhor: a Europa que se norteia pela razão. Mas que, no entanto, sabe: mesmo que o Reino Unido permaneça como membro da UE, reformas fazem-se urgentemente necessárias.

A reação a um voto britânico de "remain", de permanência, seria primeiramente um suspiro de alívio. Mas aí a UE tem que começar a pensar formas de superar a em parte profunda desconfiança contra "eles lá em Bruxelas". É preciso que o sentido e a utilidade da União Europeia voltem a ser mais palpáveis.

Não se deverá mais rebater o sentimento de que a classe política europeia age como uma elite acima do bem e do mal, com a fórmula retórica "agora, mais do que nunca, é urgentemente necessário mais Europa".

O contrário é verdade: cabe encarar com seriedade as críticas objetivamente pertinentes às irregularidades na UE – na Comissão, no Parlamento e no Conselho Europeu. A UE precisa de uma reforma, e ela tem que comunicar aos cidadãos um novo senso de pertencimento.

Há muitos motivos objetivos e econômicos por que é melhor para o Reino Unido permanecer na União. E há muitos motivos objetivos e econômicos por que é melhor para a UE que o Reino Unido continue sendo seu integrante.

Do ponto de vista da política mundial, um Reino Unido sem UE e uma UE sem Reino Unido desempenham, no melhor dos casos, um papel secundário no palco global. Uma União sem a influência britânica seria, sem dúvida, menos pragmática, menos liberal, menos cosmopolita e com menos peso nos mercados do que a atual. E a Alemanha possivelmente perderia seu principal parceiro nas horas em que se trata de não ver a UE como mera máquina de distribuir dinheiro.

Qualquer que seja o resultado do referendo, uma coisa é certa: o primeiro-ministro britânico, David Cameron, só quis e ousou realizar o referendo por motivos de política partidária interna – para acalmar os céticos em seu partido conservador. E com isso precipitou a União Europeia numa crise fatídica.

Cameron evocou precisamente aqueles espíritos eurocéticos de que, na verdade, queria se livrar. Ele colocou o destino de seu país e de toda a UE nas mãos de um referendo sem sentido e inteiramente desnecessário. E, ainda que os britânicos votem com tanto pragmatismo e razão quanto se espera em muitos Estados europeus: Cameron causou uma fissura no próprio país. E levou os fundamentos da UE até os limites máximos de resistência.

Por isso a decisão em favor de uma consulta popular foi uma insensatez do ponto de vista político. E o altamente emocional desenrolar das últimas semanas – culminado com o assassinato da deputada Jo Cox – só enfatizou que questões tão complexas assim são da alçada do Parlamento, não de um voto popular.