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Opinião: Relação entre Israel e Alemanha é milagre político

Alexander Kudascheff
11 de maio de 2015

No início das relações diplomáticas entre os países, em 1965, ninguém poderia prever que eles se tornariam tão próximos. Porém se trata de uma normalidade na anormalidade, opina Alexander Kudascheff, editor-chefe da DW.

Alexander Kudascheff, editor-chefe da DW

Há 50 anos, Israel e a República Federal da Alemanha assumiam relações diplomáticas. Não fazia nem duas décadas desde que terminara a Segunda Guerra Mundial; desde que os Aliados haviam vencido o "Terceiro Reich" e Adolf Hitler. Nem duas décadas desde o fim do Holocausto, tendo 6 milhões de judeus europeus como vítimas – deportados, selecionados, asfixiados nas câmaras de gás, abatidos a pancadas: um genocídio industrial nos campos de concentração, uma monstruosa violação do que é civilizado.

E, embora já no início dos anos 1950 a Alemanha e Israel tivessem assinado o assim chamado "Acordo de Reparação", dez anos mais tarde ainda era quase impensável que, apesar desse crime monstruoso, alemães e judeus ainda quisessem e fossem tentar travar e manter relações diplomáticas. Em Israel houve protestos de massa contra isso – plenamente compreensíveis, do ponto de vista humano e político.

Hoje, 50 anos depois, pode-se falar de um milagre político. Alemanha e Israel estão bem próximos. Jovens israelenses vêm para a Alemanha aos milhares, visitam Berlim, passam férias ou se estabelecem aqui: 200 mil israelenses possuem um novo passaporte, o alemão.

Consta que, ao lado dos Estados Unidos, o país mais estimado entre os israelenses é a Alemanha, a terra do Holocausto. Os alemães, por sua vez, que nos anos 60 e 70 costumam ir trabalhar uma temporada no kibutz, viajam agora como turistas até a Terra Santa. Porém, o que é ainda mais importante: os governos em Berlim e Tel Aviv cooperam mutuamente, de forma estreita e confiante.

A Alemanha é o país da Europa com que Israel mais pode contar. Mesmo que haja disputa e briga quanto à política de ocupação israelense; mesmo que saltem faíscas quando, na campanha eleitoral, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se pronuncia contra um Estado palestino: apesar disso, a segurança de Israel é razão de Estado para os alemães – como declarou a chanceler federal Angela Merkel no Knesset, sem que houvesse grande discordância em seu próprio país.

Muitas vezes os alemães são os únicos a ainda apoiar Israel. Esse é um fato amargo para um país que se vê cercado de inimigos. E, no entanto, é também inusitado: a mesma Alemanha que foi responsável pelo shoah é hoje a aliada mais próxima de Israel. Um desdobramento que ninguém teria considerado possível, 50 anos atrás.

Há uma normalidade quase inacreditável na relação dos dois Estados. Mas é uma normalidade na anormalidade, já que o trauma histórico continua pesando sobre ambos. O extermínio pelo "Terceiro Reich" de uma grande parte da população israelita da Europa faz parte do tecido do relacionamento, da identidade e da percepção mútua dos dois povos.

E há também coisas espantosas no aspecto social, no dia a dia político: os israelenses prezam os alemães; estes, por sua vez, prezam os israelenses bem menos, sobretudo devido ao conflito do Oriente Médio. Um número surpreendentemente alto de alemães simpatiza com os palestinos, que consideram vítimas dos israelenses. E aí a relação entre os dois países se torna delicada.

Seja como for: enquanto os judeus abandonam a França, por exemplo, por não mais se sentirem seguros lá, não existe nenhuma onda de emigração judaica da Alemanha para Israel – antes uma imigração para a Alemanha.

O número de comunidades duplicou nos últimos 20 anos. Infelizmente – e também isso é a realidade da Alemanha, possivelmente de toda a Europa – seus jardins de infância e sinagogas têm que ser vigiados pela polícia; cemitérios judaicos são periodicamente profanados. Essa é a cara horrenda do antissemitismo ainda existente.

Porém, como por um milagre, as relações entre a Alemanha e Israel, entre alemães e israelenses são surpreendentemente boas, 70 anos depois do fim do assassinato de milhões de judeus. Um fato pelo qual só se pode ser grato.

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