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Opinião: Religião é uma arma

15 de abril de 2017

Uma fé comum pode unir pessoas, mas é justamente aí que mora o perigo: quem determina a interpretação de uma religião pode trazer a paz ou a destruição, opina o jornalista Jan D. Walter.

Jan D. Walter é jornalista da redação alemã da DW

A agonizante questão da existência e da morte faz com que, desde tempos remotos, as pessoas procurem respostas para além do mundo material. A crença em Deus e a espiritualidade são maneiras altamente pessoais de se encontrar a paz interior.

Quando a fé se institucionaliza no contexto social e se torna uma religião, cabe a ela ainda uma função completamente diferente: criar uma identidade comum. Ela une as pessoas, faz com que se ajudem mutuamente. Em casos de litígio, preceitos morais comuns ajudam a achar uma solução amigável. Dessa forma, a religião também contribuiu para a paz social.

O mesmo vale também para outros elementos de identificação, como a cultura ou origens familiar e étnica. A coesão social faz com que membros de uma comunidade cooperem e os fortalece – em termos sociais, econômicos e contra ameaças de outras comunidades.

Mas a coesão social também abriga um perigo: que tal grupo de indivíduos se torne um coletivo. Quando mais forte for a identidade comum, maior é esse perigo. Pois o rompimento com a comunidade pode custar a identidade a um indivíduo. Isso representa um obstáculo psicológico extremamente elevado e faz com que uma pessoa subordine seus desejos e necessidades, e também a sua moral, ao coletivo, em vez de questionar ambos.

As religiões contêm – como as ideologias totalitárias – um potencial particularmente grande de gerar tais dependências. Pois elas oferecem muitas respostas. Para muitos, isso é mais fácil e mais atraente do que uma sociedade liberal, na qual a dúvida determina o grau de conhecimento.

O outro lado é: quem mesmo assim questiona é logo repudiado. E quem fica não é mais capaz de duvidar sem trair a si mesmo.

Na maioria das religiões – e ideologias totalitárias – formaram-se correntes moderadas ao longo do tempo, em que os membros puderam lançar questionamentos e de fato o fizeram. No mundo cristão, esse processo se iniciou há exatamente 500 anos – e continua até hoje.

É fácil reconhecer onde se encontra o perigo disso tudo: um grupo de indivíduos críticos pode ser influenciado. Mas as pessoas que se veem como parte de um coletivo podem ser manipuladas por aqueles que conseguem impor a sua doutrina. Para esses líderes, religiões e ideologias se tornam armas com as quais eles podem mobilizar as massas a seu favor.

E é justamente isso o que acontece regularmente na história da humanidade, vindo a custar muitas vezes a vida, a liberdade e a paz de muitas pessoas. Em outros casos, a religião garantiu a vida, a liberdade e a paz tanto de fiéis quanto de não fiéis.

Com vista às consequências, é inútil discutir se uma religião foi usada ou manipulada para determinado propósito. O certo é: a religião é uma arma que pode servir a este ou àquele objetivo.

Neste sentido, é absolutamente legítimo exortar as autoridades religiosas a participar de processos de paz. A exigência é então: empreguem a arma – contra a guerra e pela paz.