Todos que vivem na Alemanha, também os recém-chegados, devem estar cientes da responsabilidade do país pelo Holocausto e dispostos a assumi-la, afirma a editora-chefe da DW, Ines Pohl.
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Demorou para a Alemanha finalmente reconhecer que é um país de imigrantes. Muitos alemães ainda resistem em aceitar que a chegada de gente de todo o mundo para viver e trabalhar no país é não somente um enriquecimento cultural, pois, diante da evolução demográfica, os cidadãos da maior economia da Europa simplesmente não poderão manter seu padrão de vida sem a mão de obra e a competência de outros.
Neste domingo (27/01), 74 anos após a libertação do campo de concentração de Auschwitz, é um bom dia para refletir sobre o que, afinal, significa imigrar para a Alemanha, viver nela ou até mesmo almejar a cidadania alemã. É um bom dia para relembrar por que a admissão de que se é um país de imigrantes implica regras muito claras e imutáveis. E que existe uma autoconsciência do que é ser alemão, a qual não está e jamais estará em discussão, nem pode ser objeto de concessões.
A Alemanha carrega a responsabilidade pelo assassinato de pelo menos 6 milhões de judeus. E carrega a responsabilidade pela morte e pelo sofrimento de muitos outros milhões de pessoas no continente europeu e além. Essa história jamais se encerra, jamais pode ser esquecida, deve ser revivida em dias comemorativos, como hoje.
O olhar retrospectivo, contudo, não deve se resumir aos horrores do passado. Ao contrário, ele deve se dirigir para o futuro e reiteradamente questionar: o que nós, alemães, devemos fazer hoje para estarmos à altura dessa responsabilidade?
Como os últimos sobreviventes, e também os últimos criminosos, estão morrendo, temos que encontrar outros caminhos para transmitir essa responsabilidade aos jovens, os futuros eleitores, aqueles que tomarão as decisões do futuro. Quanto mais distante no tempo estiver o período nazista, mais difícil será manter viva a importância dessa memória. Isso pertence à natureza da situação.
Portanto, é correto e importante informar nas escolas, organizar excursões escolares a campos de concentração, bem como também visitar o local da Batalha de Verdun. É importante e correto que as forças políticas democráticas, para além das fronteiras partidárias, se reúnam para combater de forma eficaz o antissemitismo.
Mas é também importante deixar claro, para aqueles cujos ancestrais não viviam na Alemanha durante o período mais obscuro da história alemã e para os que acabaram de chegar, que todos que hoje vivem na Alemanha devem estar dispostos a arcar com essa responsabilidade. Ela não tem nada a ver com culpa individual, mas com a consciência que a República Federal da Alemanha tem de si.
Também esse discernimento faz parte de um dia como hoje.
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.