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Revolta pelo Estado de Direito no México

Uta Thofern (av)24 de outubro de 2014

Caso dos 43 estudantes desaparecidos abala confiança de mexicanos no Estado. É hora de o governo agir e até recorrer a ajuda externa, opina Uta Thofern, chefe do departamento América Latina da DW.

Paulatinamente as investigações confirmam aquilo que todos no México já sabem há semanas. É claro que o prefeito de Iguala, José Luis Abarca, e sua esposa, María de los Ángeles Pineda, estão por trás do sumiço dos 43 estudantes da escola normal. É claro que os dois políticos trabalharam em conjunto com a quadrilha criminosa local – que, por sua vez, tem conluio com a polícia municipal.

Uta Thofern, chefe do Departamento América Latina da DWFoto: Bettina Volke Fotografie

De outro modo, não haveria como o sistema todo funcionar. Como é que um prefeito de uma cidadezinha vai exercer poder, sem ter dinheiro para distribuir? E sem "narcos" – como são chamados os traficantes de droga no México – para aplicar com violência a sua versão de lei?

Para a maioria dos mexicanos, não foram surpresa os resultados das investigações do procurador-geral. Pois Iguala não é um caso isolado. Fomentada pela ainda extrema desigualdade social no país, a corrupção em todos os níveis administrativos está na ordem do dia.

Não é de espantar que os policiais também se mostrem dispostos a cooperar com o crime organizado. Até porque os "narcos" reagem com violência bestial quando encontram resistência. O fato de contarem basicamente com impunidade se explica pelas boas relações entre numerosos políticos e a máfia das drogas – como no caso em questão. E assim, em muitos locais, administração e criminalidade trabalham tranquilamente lado a lado.

Sem confiança no Estado

A consequência fatal é a perda de toda autoridade estatal. Os mexicanos não confiam mais em seu Estado. Eles perderam a paciência e não fazem mais qualquer distinção entre um prefeito local e o presidente da República.

Depois de décadas de guerra do narcotráfico, após mais de 100 mil assassinados e vários milhares de desaparecidos, o que o governo de Enrique Peña Nieto conseguiu realizar é simplesmente muito pouco, vem tarde demais, é fraco demais. E, portanto, não tem credibilidade.

Como os cidadãos podem acreditar que, após buscas tão prolongadas, após tantas prisões, após tantos testemunhos, ainda não haja pista dos estudantes desaparecidos? É fato que milhares ainda continuam se manifestando, sob o slogan "Nós os queremos vivos", mas no fundo ninguém mais duvida que os 43 foram vítimas de um massacre.

O presidente enviou a polícia federal, destituiu os órgãos de segurança locais e condenou o ocorrido – porém não conversou com os familiares das vítimas nem visitou a escola normal.

Ajuda de fora

Um gesto assim não bastaria para Peña Nieto conquistar confiança, mas já seria um início: o começo de um diálogo, urgentemente necessário, com uma sociedade civil que começa a se formar mais fortemente, sob o efeito dos acontecimentos em Iguala.

E ao diálogo devem se seguir ações: as pessoas não querem ver apenas mandados de prisão, mas também condenações. A reforma do direito penal vai na direção certa, mas até agora não trouxe resultados suficientes. Ela precisa ser reestudada e – sobretudo no combate à corrupção – endurecida segundo padrões internacionais.

Não menos importante: para reconquistar credibilidade, o México não deveria hesitar em pedir ajuda e aconselhamento também de fora – por exemplo, dos Estados Unidos.

Há tempos os protestos no México não giram mais apenas em torno dos desaparecidos de Iguala. Eles são uma revolta em prol de um Estado de Direito. Se o presidente não obtiver agora resultados bem rápidos, vai crescer a pressão sobre ele – e não só a internacional.

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