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Opinião: Só a religião pode derrotar o terrorismo religioso

14 de abril de 2017

É hora de fiéis de todas as religiões se unirem em favor da compaixão, da caridade, da paz e da reconciliação e contra os radicais que abusam da fé em nome do terrorismo, afirma a jornalista Astrid Prange.

Astrid Prange é jornalista da redação alemã da DW

Cristãos e muçulmanos de todos os países, uni-vos! Aliem-se contra o fanatismo religioso, contra pregadores radicais, jihadistas e terroristas! Resistam ao abuso religioso praticado por belicistas e falsos profetas, e protejam-se mutuamente da violência!

Chegou o momento de um manifesto religioso que liberte as comunidades da fé de sua má reputação. Milhões de fiéis já fazem isso. Eles praticam a caridade e a compaixão, a paz e a reconciliação. Eles trabalham em prol dos direitos humanos e da proteção da criação divina – às vezes com a própria vida.

Da religião, ninguém escapa. Segundo dados do Ministério alemão da Cooperação Econômica, em todo o mundo, oito em cada dez pessoas pertencem a uma comunidade religiosa. A busca por Deus, pelo sentido da vida e pela transcendência pertence à essência humana.

É verdade que não é fácil lidar com a religião. Em tempos de ataques terroristas e homens-bomba, de abuso infantil e exorcistas, de budistas radicais que perseguem muçulmanos da etnia rohingya, da milícia Hisbolá e da brigada Hamas, do Boko Haram, do "Estado Islâmico" (EI) e da Al Qaeda – a religião aparece como promotora da guerra e não da paz.

Não são os ateus ou os humanistas que podem impedir o radicalismo da fé, mas somente os próprios líderes religiosos. E isso já está acontecendo. De acordo com uma pesquisa do renomado Instituto para Paz e Estudos de Segurança (IPPS), de Addis Abeba, principalmente no Egito diversos movimentos islâmicos trabalham desde os anos 1990 numa revisão da doutrina da jihad.

Entre eles está Nageh Ibrahim, um ex-jihadista bem conhecido no Egito. "O EI prejudicou mais o islã e os muçulmanos que o Ocidente" é a sua convicção. Segundo Ibrahim, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York, e de 13 de novembro de 2015, em Paris, envolveram os muçulmanos numa luta contra o Ocidente que eles não desejavam.

Organizações terroristas como EI e Al Qaeda se fortaleceram somente após as intervenções do Ocidente. Pois, no passado, os talibãs receberam apoio americano na luta contra as tropas de ocupação soviéticas no Afeganistão. E o "Estado Islâmico" emergiu das forças iraquianas derrotadas após a queda de Saddam Hussein, em 2003, provocada por tropas dos Estados Unidos.

O terrorismo religioso ameaça a todos os fiéis, não importa de qual religião. Mas quando esses fiéis se unem, o terror se esvazia. Após os recentes ataques a igrejas coptas no Egito, muitas comunidades muçulmanas em Tanta e Alexandria convocaram seu membros para doar sangue para as vítimas.

Também na Nigéria, onde o Boko Haram bombardeia igrejas e mesquitas e rapta meninas nas escolas, cristãos e muçulmanos estão mais próximos. O diálogo religioso é guiado pelo arcebispo Ignatius Kaigama, presidente da Conferência dos Bispos da Nigéria, e o emir de Kanam, Muhammadu Mohammed Muazu.

Chegou o momento, então, de diferenciar e buscar valores comuns. Pois por trás de conflitos de cunho religioso se escondem, na maioria dos casos, meras lutas políticas de poder e falta de perspectiva econômica.

Somente o diálogo religioso pode conter o terrorismo e promover a paz. Que isso não é apenas um sonho se evidencia nas muitas iniciativas que já realizam essa tarefa num trabalho meticuloso e longe da atenção da mídia.

Na Páscoa, a festa da Ressurreição de Cristo e da vida eterna, por que não pensamos nos muitos que trabalham pela paz e que tiram a sua força da fé? Dedico minha admiração a pessoas como o bispo Kaigama e o emir de Kanam, a Nelson Mandela ou Malala Yousafzai. Eles mostraram que a humanidade pode vencer a morte e o terrorismo – com a ajuda da religião, e não contra ela.

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