Sacrifícios dos gregos não podem ser em vão
29 de dezembro de 2014Alexis Tsipras pode, através de um desvio de rota após sua derrota na eleição presidencial, alcançar aquilo que não conseguiu há alguns anos: se tornar o próximo primeiro-ministro da Grécia.
No momento, as pesquisas apontam que sua aliança esquerdista, o Syriza, na liderança. Caso Tsipras realmente lidere o próximo governo e cumpra o seu anúncio de abandonar o curso de austeridade, a situação ficaria ruim – tanto para a Grécia como para a zona do euro em geral.
Uma pequena retrospectiva: dois chefes de governo gregos, o socialista Giorgos Papandreou e o atual, o conservador Antonis Samaras, tiveram dificuldade em convencer seus conterrâneos sobre as medidas de austeridade e o programa de reformas determinados pelos credores internacionais.
Na época, Tsipras já liderava a oposição política contra essas medidas. No entanto, sem as imposições, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não teriam salvado o país do colapso financeiro com assombrosos 240 bilhões de euros.
É indicativo que, durante a campanha eleitoral de 2012, Samaras tenha recebido o apoio não apenas da chanceler federal alemã, Angela Merkel, que pertence à mesma orientação partidária de Samaras, mas também do presidente da França, o socialista François Hollande, e do então apartidário premiê italiano, Mario Monti.
Em outra oportunidade, tanto Hollande quanto Monti se aliaram contra uma suposta medida de austeridade alemã. Porém, no caso dos empréstimos para Atenas, era claro para ambos que a permanência da Grécia na união monetária – e toda a política europeia de resgate – dependia da aceitação dos termos e condições.
Agora, o futuro econômico da Grécia pode estar novamente em risco. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, advertiu que cada novo governo grego deve cumprir os acordos contratuais do predecessor. "Se a Grécia optar por um caminho diferente, a situação ficará complicada", alertou.
A ironia de uma suposta vitória do Syriza é justamente o momento em que ocorreria: depois de anos de recessão, a economia grega lentamente mostra sinais de recuperação, o país consegue colher os primeiros frutos graças aos sacrifícios feitos pelos cidadãos.
Esses sacrifícios podem, porém, ter sido em vão, caso um governo liderado por Tsipras de fato encerre as medidas de austeridade e o programa de reformas. Aos credores restaria praticamente apenas uma saída política: suspender a ajuda financeira.
Tsipras quer manter a Grécia na zona do euro, mas sem poupar. Mas as duas coisas, juntas, são impossíveis. Até a data da eleição, em 25 de janeiro, muita coisa pode mudar. E, recentemente, o próprio Tsipras não tem se expressado tão radicalmente como antes, quando queria suspender unilateralmente as medidas de austeridade.
Ele está propenso a negociar com os credores. Mas as suas metas oficiais – aumento de renda e das pensões, o fim das demissões e a suspensão de privatizações – fazem parte daquilo que fora exigido pelos credores como garantia.
Vale lembrar também que as condições de reembolso foram melhoradas significativamente durante o governo Samaras. Tsipras, portanto, não deve contar muito com mais benevolências dos credores.
Talvez alguns gregos também tenham chegado à conclusão de que algumas das reformas forçadas fizeram bem ao país e que os próprios políticos nunca tiveram a coragem, por exemplo, de racionalizar o inchado e ineficiente aparato estatal ou de melhorar a arrecadação de impostos.
Justamente a questão dos impostos mostrou que nem toda mudança precisa estar ligada a dificuldades sociais e que, pelo contrário, reformas podem estabelecer uma justiça social. De qualquer forma, a Grécia não pode voltar a ficar como era antes da crise. É de se esperar, portanto, que os gregos não coloquem em risco aquilo que conquistaram com muita dificuldade até aqui.