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Opinião: Salvar Ucrânia é questão delicada para o Ocidente

Bernd Johann (av)17 de março de 2015

É preciso preservar o país tanto das investidas imperialistas de Putin quanto do colapso econômico. Mas ninguém pode investir indefinidamente num poço sem fundo, opina Bernd Johann, da redação ucraniana da DW.

Bernd Johann, da redação ucraniana da DWFoto: DW/P. Henriksen

A Ucrânia está à beira do colapso financeiro e precisa de ajuda do Ocidente. Sua economia míngua, o cessar-fogo no leste é instável. Embora no momento não haja maiores combates na região, é elevadíssimo o perigo de que a guerra volte a recrudescer.

Os ucranianos temem, com razão, que o próximo alvo dos separatistas seja a estrategicamente importante cidade portuária de Mariupol, no Mar de Azov. Sua tomadda significaria um passo em direção a uma passagem terrestre para a Crimeia.

A delicada situação militar e a crise econômica foram os temas determinantes da breve visita do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, à Alemanha. A chanceler federal Angela Merkel e o presidente Joachim Gauck o receberam de braços abertos em Berlim.

Os políticos alemães estão cientes das dificuldades que atravessa a Ucrânia. Mesmo o país tendo estado menos presente nas manchetes internacionais, seus problemas não diminuíram. Numa iniciativa para estabilizar a economia ucraniana, na segunda semana de março o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou um vultoso pacote financeiro. Além de verbas de outras fontes, nos próximos anos 40 bilhões de dólares fluirão para o país, sobretudo na forma de créditos de ajuda.

Na qualidade de maior economia da União Europeia, a Alemanha também apoia a Ucrânia em nível bilateral. Além disso, como atual presidente do G7, ela coordena parte do auxilio internacional. Há semanas o Ministério das Finanças em Berlim estuda as necessidades financeiras ucranianas. Os dados entregues por Kiev indicam riscos bilionários, até mesmo devido aos imensos custos da guerra no leste do país.

Com o convite a Poroshenko, a Alemanha também demonstra que não esqueceu a anexação da Crimeia pela Rússia. Há exatamente um ano, com apoio militar russo, a península no Mar Negro se separou da Ucrânia num referendo controverso.

Merkel e Gauck asseguraram a Poroshenko que o procedimento de Moscou jamais será reconhecido, pois consistiu num golpe contra um Estado independente, violando o direito internacional. No entanto, nem o presidente ucraniano nem o governo alemão têm ideia de como a Crimeia poderá voltar a ser ucraniana num futuro próximo.

Tampouco está claro se será mantido o cessar-fogo acertado há mais de quatro semanas na bielorrussa Minsk. A conduta de Moscou e dos separatistas prossegue imprevisível. Observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) continuam sem acesso aos territórios disputados.

A missão da organização europeia segue sendo pequena demais para vigiar os 400 quilômetros de fronteira. Por isso deverá receber reforço de pessoal, o que, contudo, ainda vai demorar meses. Também faltam recursos tecnológicos in loco, como drones capazes de vigiar eficazmente os movimentos das tropas. Porém a Rússia bloqueia a resolução necessária na OSCE, comprovando, assim, quão pouco é o seu interesse no cumprimento do cessar-fogo.

Em Kiev, conta-se com uma nova grande ofensiva dos separatistas, motivo pelo qual Poroshenko pede que lhe sejam fornecidas armas. Porém nesse ponto Berlim resiste, da mesma forma que outros Estados europeus, por temer que venha a desencadear uma escalada.

Entretanto, a Ucrânia precisa de sistemas armamentistas modernos, tanto de drones quanto de reconhecimento aéreo. No momento, o Exército ucraniano não teria muito como resistir a um novo ataque dos separatistas, excelentemente equipados pela Rússia.

Do ponto de vista econômico e, sobretudo, financeiro, Poroshenko conta com a necessária cobertura por parte de Berlim. Em contrapartida, porém, ele precisa finalmente dar a arrancada nas tão prometidas reformas, que incluem tanto a autonomia da Justiça quanto o combate à corrupção e às estruturas oligárquicas.

Juntamente com a guerra, ambas são o principal obstáculo à estabilização econômica. O dinheiro dos ricos da Ucrânia continua fluindo para fora do país, e Poroshenko não fez muito para combater isso. Talvez porque, sendo proprietário de empresas, ele próprio pertence ao círculo dos oligarcas.

O Ocidente sabe: a salvação da Ucrânia pode sair cara. E cabe ver quanto ele está disposto a dar no fim das contas. É preciso evitar o colapso do país, porém ninguém vai investir indefinidamente num poço sem fundo. E, afinal, está claro: uma estabilização só terá sucesso quando a guerra tiver terminado.

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