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Schulz, o derrotado, faz o que Merkel deveria ter feito

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Jens Thurau
12 de setembro de 2018

Olhar a AfD nos olhos e chamá-la pelo nome: Merkel não soube fazer isso. Schulz, aquele que foi declarado politicamente morto, fez, constata o jornalista Jens Thurau.

Foto: Reuters/H. Hanschke

Lá está ela, a chanceler federal, neste dia cheio de emoções no Bundestag. E fala, como sempre, de forma calma e objetiva. O plenário está em silêncio, um silêncio que chama a atenção. Afinal, todas as emoções e desvarios destes dias miram a chanceler, ou melhor, a sua política migratória. No início do debate, o partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD) pintara um quadro da Alemanha que parece mais ou menos com o seguinte: o medo toma conta das ruas do país, e estrangeiros cometem quase diariamente atos violentos contra alemães, incluindo assassinato.

O deputado social-democrata Martin Schulz não consegue se conter diante dessa descrição de uma país à beira do precipício e responde de forma altamente emotiva. Schulz, o antigo candidato a chanceler federal, o adversário de Merkel na eleição do ano passado, aquele de quem os alemães, no final, não sabiam mais o que ele pensava e queria, aquele que foi aniquilado politicamente.

Esse mesmo Schulz levanta o punho, olha com raiva para as fileiras da AfD e fala de "meios do fascismo". Fala que, certo tempo atrás, também foi assim: um grupo social, também uma minoria, é responsabilizada por todo o mal. E quando Schulz diz isso, com todas as letras, deputados se levantam para aplaudir freneticamente – de A Esquerda, do Partido Verde e do SPD. Há um clima de República de Weimar no ar.

E, aí, Merkel: no silêncio do Parlamento, ela diz uma daquelas típicas frases merkelianas: "A maioria das pessoas na Alemanha vive e trabalha em prol de uma convivência boa e tolerante, disso eu estou plenamente convencida." Pode ser. É até muito provável. É também quase a única chance de Merkel: torcer para que a maioria silenciosa sinta repugnância diante do debate histérico sobre os acontecimentos de Chemnitz, Köthen e, antes, em outros lugares, das marchas de extremistas de direita e adoradores de Hitler, que perseguem estrangeiros e atacam restaurantes judaicos.

A pergunta é se isso basta. Se essa mulher objetiva de nervos de aço ainda consegue dar, às pessoas, a sensação de que pode acalmar os ânimos e devolver o país a uma direção decente. Por que a impressão que se tem é que a chanceler federal descreve um país e uma sociedade de oito anos atrás.

Mas o debate sobre a política migratória é muito mais do que isso: é um debate sobre os rumos gerais da nação, sobre se leis e divisão de poder ainda funcionam. E, se funcionam, se o Estado – a polícia, os juízes, as autoridades, os assistentes sociais – ainda conseguem impor a visão da maioria silenciosa.

As imagens de nazistas perseguindo estrangeiros já são ruins o suficiente. Mas os políticos não as condenam de forma enfática. O governador da Saxônia contradiz Merkel quando ela fala em perseguições. O ministro do Interior de Merkel, na verdade, também. E o presidetne do serviço secreto interno vai além de suas atribuições e também questiona se, em Chemnitz, de fato houve perseguições de estrangeiros. Merkel reitera sua posição de que sim, houve. Mas diz isso no tom de quem anuncia novas regras para a construção civil.

E assim fica a impressão de que a maioria silenciosa da sensatez, do comedimento e do equilíbrio precise de uma sacudida. Merkel não consegue mais fazer isso. Schulz ao menos tentou: foi emotivo, claro e direto ao ponto.

Talvez haja, no discurso dele, um consolo para os social-democratas, tão fortemente abalados, quando transparece que o seu antigo presidente e candidato a chanceler federal não faria má figura no comando do país – Schulz, afinal, parece ter uma clara intuição de quando é chegada a hora de chamar as coisas pelo nome, e de forma clara e audível.

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